Maio Amarelo: “Em um instante, tudo muda”

Acidentes de trânsito deixam marcas, muitas vezes, perdas irreparáveis que mudam as vidas completamente. Há um ano e dois meses, Samara Paludo Affonso passou por um dos piores dias da sua vida. Estava chovendo, um tempo ruim, e ela estava esperando seu namorado Medson Conte. Mas ele, infelizmente não retornou. “Eu lembro de tudo, da última vez que falei com ele, que o tempo estava bem ruim. Ele me disse que vinha para casa logo, porque estava chovendo muito. Ele tinha bebido, estava voltando de um almoço, mas eu não sei se o que ele bebeu teria alterado o psicológico dele. Porque é tão natural, ir num almoço, beber, e no final da tarde pegar o carro e sair. Quem não faz? A maioria das pessoas é imprudente. Ele estava muito próximo de casa, ele conhecia o lugar, passava por ali no mínimo seis vezes por dia, era o trevo de acesso a sua casa”, relata Samara.
Todos os minutos e segundos daquele final de dia estão na memória; uma triste lembrança que dificilmente será apagada. “A gente se falou normalmente e ele me disse que as 6 horas iria me buscar. E ele não chegou; seis, seis e dez, seis e vinte e nada. Daí eu comecei a ligar, chamava e não atendia. Liguei para o pai dele, porque eu sabia que ele tinha ido para esse mesmo almoço, mas ele me disse que não foi e que ia tentar ligar para ele. Nesse tempo, na casa dele, chegou uma tia que disse que tinha acabado de passar por um acidente. E o pai dele relacionou; foi lá e encontrou o carro batido; o Medson já não estava mais, a ambulância já o tinha levado para o hospital. Ele me ligou, eu fui para o hospital e fiquei sabendo de tudo o que aconteceu. Não podiam dar informações no início; depois, conversando com os médicos, nos falaram que a situação era bem grave e que ele corria sérios riscos de vida; precisava ser transferido com urgência para outro hospital. Nesse meio tempo, ele teve uma parada cardiorrespiratória devido aos ferimentos internos e não resistiu. E daí, acabou tudo!”.
Passar pelo local do acidente, para ela, é muito estranho: “Querendo ou não, lembro que foi ali que terminou tudo; que não tem o que fazer. Mas, toda vez que saio de casa me lembro de pôr o cinto, pelo menos, de não beber, da velocidade, isso, sempre”, com lágrimas, relata. 
Já em 2012 o casal havia sofrido um acidente, o carro teve perda total, mas eles não se feriram. “Um carro na contramão, em uma curva, bateu em nós”, conta. Por causa disso, eles tomavam mais cuidado ao sair de casa e colocar o cinto; se um bebia, o outro dirigia. Mas, naquele dia, ele estava sem cinto de segurança. Samara conta que segundo os médicos que atenderam, a lesão dele era muito grave e o cinto não teria resolvido o problema, ele ia ficar tetraplégico; e por causa da parada, ficou sem oxigenação no cérebro, ficaria com inúmeras sequelas. 
As perguntas são muitas: “Foi imprudência ou não? Não tenho como julgá-lo. Não sabemos a velocidade que estava. Condições do veículo, estavam ótimas, nenhum problema. Mas, a condição da rodovia, sim, esse trecho tem problemas, acontecem muitos acidentes no mesmo lugar, acumula bastante água (BR 470, próximo ao km 166, em Vila Flores). Então, não sei se ele aquaplanou, se alguém cortou a frente, o que aconteceu… Optamos por não olhar nas câmeras de segurança, pois isso não vai mudar, ele não vai voltar”, afirma. 
Samara e Medson namoraram por sete anos, desde o Ensino Médio: “Não tem como esquecer, porque não é um termino que os dois escolheram, nem eu escolhi terminar com ele e nem ele comigo. Se não tivesse acontecido isso, com certeza, teríamos planos futuros”, relata. 
Disso tudo, o que fica para Samara é: Conscientização, saber o que está fazendo, respeitar todas as sinalizações possíveis. Pois, como ela diz: “Num minuto a tua vida acaba e adeus; muda totalmente. Tem dias que estou melhor, dias que estou pior. Esse será o segundo dia dos namorados sem ele, o primeiro dia dos namorados foi um dos piores momentos. Teus planos futuros morrem; tínhamos começado a guardar dinheiro para mobiliar o apartamento. Agora, vou comprar um móvel e vou discutir a cor, o modelo, onde colocar, com quem? Muda muita coisa, muda sair de casa e ter que levar uma bolsa para colocar a chave do carro, porque não precisava antes, algo tão besta. Era muita convivência, foram sete anos bons…”, triste, recorda. 
O pensamento que ela deixa é o de aproveitar cada momento da vida e não deixar de fazer o que pode ser feito hoje. “Foi uma perda imensa, aquele buraco vai sempre estar lá, vou tentar esquecer e superar, conhecer alguém, construir uma vida, mas esses sete anos não serão apagados, tu não passas uma borrachinha e acabou. Tu vais procurar o álbum de fotos da formatura e tem as fotos com ele; e tu vai te lembrar daquele maldito acidente sempre. E não adianta pensar se isso, se aquilo. Acredito que temos um prazo de validade, além de tudo, e se é a hora…”.
Apesar do impacto, buscar ser forte. E foi o que ela fez, porque sabe que é isso que ele faria, isso que ele gostaria que ela fizesse. “Eu paro às vezes e penso: como aguentei? Não sei. Ninguém sabe quantas vezes eu fui deitar chorando e chorei até dormir. Quando ele perdeu a mãe, ele foi muito forte, foi um exemplo para mim”, conclui. 

Reportagem de Daniela Affonso.

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