Sapataria: de geração em geração, sobrevivendo ao tempo

Com o crescimento das indústrias especializadas em produção em massa, diminuiu o número de calçados por encomenda, feitos artesanalmente. Sendo assim, atualmente, a profissão do sapateiro limita-se, praticamente, a consertar sapatos. Porém, sempre há aqueles que procurem o artesão experiente em busca de um modelo único e especial. Quem conta isso é o sapateiro Leandro Farias da Luz, que desde os oito anos atua neste ramo. 

Profissão de pai para filho 

O conhecimento foi passado a Leandro pelo falecido pai, que era sapateiro na sua cidade natal, Carazinho. Seguindo os passos do pai, ele montou sua sapataria quando tinha entre 17 e 18 anos. Depois de diversos anos trabalhando com isso, Leandro mudou-se para Balneário Camboriú, onde trabalhou como porteiro por um tempo. E foi então, há cerca de dois anos, que ele resolveu mudar-se para Veranópolis, pois aqui mora seu irmão, que o incentivou a montar uma sapataria. Durante o tempo que morava em Santa Catarina, ele até tentou trabalhar com o que gostava, porém não deu certo. “Como que Balneário é uma cidade onde gira muito dinheiro, as pessoas não querem saber de consertar nada”, explica. 

Ele afirma que estão ficando escassos os profissionais da área, que é totalmente manual e cheia de detalhes. “É uma profissão que está em extinção, poucas pessoas estão querendo trabalhar com isso. Até porque, hoje em dia, eu percebo que os calçados não são como antigamente, quando um calçado durava muitos anos. Atualmente, além de ser mais em conta, é meio que descartável, muitas pessoas acabam comprando outro para substituí-lo ao invés de reformar”, comenta. As únicas máquinas que ele utiliza são para costurar e lixar, o restante é feito manualmente. 

Quando ele chegou a Veranópolis, procurou um dos sapateiros mais conhecidos, o Lari, a fim de fazer uma parceria, trabalharem junto. Entretanto, ele havia encerrado as atividades como sapateiro. Durante esse período, Leandro conheceu sua esposa, Cristiane, através das redes sociais. Eles decidiram morar juntos e investir na sapataria. Cristiane relata como foi o começo: “Nos conhecemos no Facebook; eu estava viúva há seis anos e conheci a pessoa certa. Eu e meus filhos, Adriel e Giovana, viemos morar aqui com ele, e hoje estou esperando Arthur, primeiro filho meu e de Leandro”. 

A Sapataria da Família foi inaugurada há um ano e sete meses e recebeu esse nome, segundo Leandro, para homenagear a sua família, pois ele garante que o apoio deles foi fundamental; e além disso, a casa deles é na sapataria. Apesar de não entender nada sobre a profissão, Cristiane deu apoio e aprendeu algumas atividades, como a pintura. 

 No início, poucas pessoas conheciam Leandro, então, a maioria dos clientes foi passada por Lari.  Com o tempo, se tornando uma referência na cidade e região. Eles têm clientes de Guaporé, Bento Gonçalves e Nova Prata, entre outros municípios. 

Diversificação, qualidade e atendimento

Muitos são os serviços realizados: consertos variados de calçados, bolsas, malas e outros; fabricação (mais por encomenda) de botas gaúchas, chinelos campeiros, alpargatas, sandálias e bolsas; pinturas; trocas de zíper; limpeza e higienização de casacos, jaquetas e calçados de couro e malas de viagem, com produtos especiais; o carro-chefe de Leandro são os consertos. Ele acredita que um pouco do crescimento da sapataria se deve à diversidade de trabalhos realizados por ele e Cristiane. “Aqui é muito difícil o cliente sair porque não tem conserto. Eu olho diversas vezes até encontrar uma solução, pois no conserto podem ser feitas inúmeras coisas”, afirma, Leandro. 

Aqui na cidade, a resposta foi muito positiva, tanto que hoje eles possuem muitos clientes fiéis que, seguidamente, elogiam o trabalho e o atendimento. “Os veranenses são mais apegados às suas coisas, gostam de economizar, ao invés de comprar um calçado novo optam por reformar o antigo. E na sapataria, além da qualidade do serviço, prezamos muito pelo atendimento, que é o que garante que os clientes retornem”, destaca Leandro. Além disso, uma das coisas fundamentais nesta profissão é a organização, algo que eles priorizam, tanto que adotaram o sistema de ligar para os clientes quando o serviço está pronto. 

Cristiane conta ter ficado admirada com o trabalho de Leandro em uma bota que uma cliente tinha há mais de 15 anos: “a bota estava totalmente ‘acabada’ e o Leandro a deixou perfeita, me admirei muito”, conta.  E esse trabalho de qualidade existe pois Leandro gosta do que faz: “Eu adoro pegar aquele calçado destruído, reformá-lo e entregá-lo para o cliente, que se surpreende. Para mim essa profissão é muito gratificante, gosto muito”, afirma. 
Uma das inovações que a sapataria oferece é atendimento a domicílio para clientes que tem problemas de saúde e não podem subir as escadas. O cliente liga, eles vão até a sua casa pegar o produto e verificar o que precisa ser feito, consertam e depois entregam. E hoje, em seu trabalho, a única dificuldade que eles têm é em relação ao material, pois ele compra em Erechim. E não é sempre que os fornecedores vêm. “Eles poderiam me mandar por transportadora, mas o valor de encomendas tem que ser bem grande, e eu não preciso de um grande estoque”, explica. 

Com os ensinamentos do pai, que falava “a tua propaganda é o ‘boca a boca’, se tu não fez bem feito, a tua propaganda será negativa”, Leandro e Cristiane buscam fazer o máximo possível para deixar o cliente satisfeito. E isso não é difícil, pois o amor de Leandro pelo seu ofício é percebido claramente: “eu digo de coração, que eu não trabalho visando o ganho ou ficar rico. Até, às vezes, eu comento com as pessoas e todos ficam surpreendidos. Mas eu penso assim porque eu gosto do que faço. Claro que precisamos trabalhar e ganhar dinheiro para nos sustentarmos, mas tu fazendo o que ama a reciprocidade é natural”. 

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