Lilli Conte: da garagem de casa à “menina da BR”

No dia 19 de agosto, Dia Mundial da Fotografia, Lilli Conte terá um motivo espe­cial para celebrar: serão 16 anos dedicados a registrar me­mórias, emoções e histórias através de suas lentes. Mais do que profissão, a fotogra­fia transformou sua vida — e hoje, Lilli é conhecida não apenas por seu trabalho com gestantes, crianças e eventos, mas também por um novo ni­cho que conquistou a região: a fotografia esportiva e de estra­da.

O começo: um acaso que virou paixão

Em 2009, Lilli trabalhava como cargo de confiança na Prefeitura Municipal de Vila Flores. Embora não fosse sua função principal, assumia ta­refas de fotografia e marketing sempre que o assessor de im­prensa da época, Rômulo Ber­nardi, não podia comparecer. Foi ele quem lhe deu liberdade para “andar” nessa área e, sem saber, despertou nela o inte­resse definitivo pela fotografia. Quando deixou o cargo, Lilli decidiu investir no sonho. Montou um pequeno estú­dio na garagem de casa, com equipamentos simples — e até alguns inadequados para fotografia — comprados com muito esforço. Sua primeira câmera, uma Fuji, registrou os primeiros ensaios: a irmã como modelo, vestidos aluga­dos, maquiagem improvisa­da e cenários no interior. Na época do Orkut, as imagens começaram a circular e logo surgiram clientes interessa­dos. Gestantes e crianças se tornaram seu público inicial, e assim ela construiu uma base sólida de trabalho.

A virada: das festas às estradas

Ao longo de mais de uma dé­cada, Lilli registrou de tudo: casamentos, batizados, festas de 15 anos, formaturas, cam­panhas políticas e ensaios corporativos. Até que, em de­zembro de 2024, surgiu o con­vite que mudaria seu rumo. Mikael Pagnoncelli, presi­dente do grupo de trilheiros “Metralhas”, percebeu que a região carecia de fotógrafos esportivos especializados em motos. Ele lançou o desafio: “Pega a tua câmera, vai para as curvas da Serra e testa.” Lilli aceitou. Escolheu um do­mingo, avisou amigos mo­tociclistas, posicionou-se na “curva da tenda” e fotogra­fou por duas horas. Resul­tado: cem fotos, cinquen­ta vendidas no mesmo dia através de uma plataforma online. “Ali eu vi que tinha encontrado um espaço que precisava de mim”, relembra. Desde então, a fotógrafa tor­nou-se presença constante no Belvedere, nas BRs da região e em eventos de motos, ca­minhões, jipes e encontro de trilheiros. Seu objetivo? Cap­tar não só a velocidade, mas também a emoção por trás do capacete ou da lataria.

A emoção por trás da velocidade

Para Lilli, a fotografia esportiva é desafiadora. Exige técnica, equipamento rápido e sensibi­lidade para congelar o instante certo. “O plano de fundo está parado, mas o veículo preci­sa transmitir movimento. É como contar duas histórias na mesma imagem”, explica. Mais do que motos e cami­nhões, ela registra momen­tos que ganham significado especial para quem está na estrada. Uma mãe emocio­nada agradeceu pela melhor foto de suas férias em família — tirada espontaneamente, quando os filhos acenavam pela janela do carro. Cami­nhoneiros a procuram para ter um registro do próprio trabalho, muitas vezes invisí­vel aos olhos da sociedade. “Essas histórias me mostram que não é só uma foto. É um pedaço de vida que vai ficar para sempre”, afirma.

A força para seguir

Se a fotografia já tinha im­portância na vida de Lilli, o significado se aprofundou após uma perda marcan­te: há seis meses, seu pai, maior incentivador de sua carreira, faleceu. Foi ele quem sempre disse “vai que vai dar certo, e se der errado tu vai aprender”. Para lidar com o luto e a depressão que atingiu a família, Lilli mergulhou ain­da mais no trabalho nas estradas. Assim, nasceu a “menina da BR” — apelido carinhoso dado por moto­ristas que a reconhecem nos eventos e rodovias. Em um encontro de cami­nhoneiros em São Sebastião do Caí, Lilli chegou conhe­cendo apenas o contratante. Saiu de lá com abraços e ce­lulares exibindo suas fotos, provando que seu trabalho já faz parte da memória afetiva de muitas pessoas.

O lema e o legado

Entre todas as frases que colecionou ao longo da vida, Lilli guarda uma como essência de sua pro­fissão: “A fotografia não é importante… até ser a úni­ca coisa que a gente tem.” É assim que ela define o po­der da imagem — e é isso que quer deixar como lega­do: lembranças que resis­tam ao tempo.

  

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