Ela nasceu em 22 de setembro de 1924, uma data que simboliza mais de um século de história, sabedoria e vitalidade. Dona Rosa, conhecida por seu notável bom humor e lucidez, relembra com carinho momentos marcantes de sua trajetória e compartilha reflexões sobre a importância da família, tornando-se um exemplo de força e inspiração para toda a comunidade.
A moradora centenária é a matriarca de uma família grande e unida, fruto de seu casamento com João Batista Picoli. Juntos, construíram um legado de sete filhos, Bernardete, Carmen, Ivo, Ari, Remor, Lorena e Loreni, 16 netos e 18 bisnetos, que refletem sua dedicação e amor. Ela é filha de Pedro Colpo e Lucia Vezaro e neta dos casais italiano Batista Colpo e Luiza Durli Colpo, Domingos Vezaro e Maria Pianta Vezaro.
Rosa Colpo Picoli, centenária moradora de Cotiporã
Natural da Linha Sessenta, em Dois Lajeados, Dona Rosa é um retrato das migrações do Rio Grande do Sul. Sua jornada a levou a estabelecer raízes em diferentes cidades ao longo dos anos, incluindo Fagundes Varela, Cotiporã e Monte Belo do Sul, antes de fixar residência.
A trajetória de Rosa é um testemunho da autossuficiência e da resiliência da mulher do interior gaúcho. Além de ser agricultora, ela dominava uma impressionante variedade de ofícios que garantiam o sustento e o desenvolvimento da comunidade. “Fazia dressa, chapéu e bolsas em palha de trigo, trabalhava com desdobramento de madeira bruta, moinho de trigo e milho, tudo movido a água, e ainda fazia partos quando solicitada. Além de costurar calças para homens, trabalhei também com parreirais”, conta.
Ao ser questionada sobre o sentimento de completar 101 anos, Dona Rosa não hesita em se definir como “vitoriosa”. Ela expressa sua felicidade de forma simples e tocante, conectando-a à família e à rotina: “Estou feliz por estar junto aos meus familiares. Eu como, bebo, durmo e rezo o terço todos os dias para todos da minha família”, celebra.
Casa onde Dona Rosa viveu parte de sua vida
Ao mergulhar nas lembranças da infância em Linha Sessenta, Dona Rosa revela uma dicotomia comum à vida no campo: a convivência entre o prazer simples e a responsabilidade precoce. Ela descreve a memória de forma vívida: “As brincadeiras, correr pelo campo, tomar banho de rio, roda cotia, carretel de linha,boneca de espiga de milho, bonecas feitas com panos… E trabalho duro desde cedo”, relembra”.
Ao comparar sua infância com a vida atual, Dona Rosa oferece uma reflexão crítica sobre o consumo e a satisfação. “Não tinha luxo nem água encanada, nem banheiro, nem luz elétrica, e nem calçados era só um chinelo. Hoje as pessoas têm muita coisa e nada serve”, comenta.
Outra mudança que ela destaca, são os casamentos. “Na época, os casamentos aconteciam, só podia namorar com supervisão dos pais, hoje se amontoam, a liberdade é demais, não existe respeito aos mais idosos”, observa ao ver os jovens.
Momento histórico marcante
As memórias de Rosa não se limitam à sua trajetória, mas abarcam um testemunho histórico familiar de um período sombrio e violento. A centenária recorda o que sua avó lhe contava sobre a Revolução Federalista, quando o medo pairava sobre as comunidades rurais.
O relato de sua avó detalha o pânico gerado pela presença militar: “Os soldados abusavam das mulheres”, lembra ela, sublinhando que as famílias foram forçadas a adotar medidas extremas para proteger suas filhas. Ela cita o exemplo de seu tio: “Lembro que meu tio tinha cinco filhas, então, para proteger, construiu um abrigo no meio do mato e as escondeu, levava comida escondida”, revela.
A violência relatada pela avó ia além dos abusos. Dona Rosa recorda que os soldados levavam as mulheres consigo. “Depois, quando não servia mais, matavam”, conta. A arbitrariedade e a falta de respeito à propriedade também eram marcas desse período.”Chegavam numa casa, se achavam donos. Se queriam, matavam uma vaca e comiam”, relembra.
Saudade do passado
Apesar de toda a vitalidade, Dona Rosa revela que o tempo traz consigo ausências profundas. A maior saudade, segundo ela, reside na esfera familiar e na simplicidade da vida em comunidade. “Sinto saudades de meus pais, fica sempre um vazio”, confessa. Além do afeto dos entes queridos que se foram, a centenária lamenta a mudança nos costumes: “Saudades também da vida simples, onde todos iam na igreja aos domingos. Isso é o que eu mais sinto saudade do passado”, recorda.
Conselhos
Aos 101 anos, Rosa se torna uma autoridade em longevidade e compartilha os hábitos que, segundo ela, a fizeram alcançar o século de vida com vitalidade. O segredo está na simplicidade. “Alimentar-se de forma mais natural possível, pouco açúcar, água e, se eu ainda fosse capaz, fazer caminhadas”, explica. Ela aponta a rotina de sono como um fator determinante, contrastando o passado com o presente. “Antigamente, quando escurecia, não tinha luxo elétrico. A gente jantava, lavava a louça e ia dormir. Hoje as pessoas dormem muito tarde”, menciona.
Questionada sobre as lições mais importantes que o tempo lhe ensinou, Dona Rosa desvia o olhar dos bens materiais e aponta para os valores morais. Para ela, o caminho da longevidade com plenitude está pautado na honestidade e na bondade. “A coisa mais importante é ter o coração leve, perdoar”, finaliza.
Fonte:: Jornal Semanário