Saúde Mental de Nova Prata faz mais de 900 atendimentos mês

O serviço de saúde mental da Secretaria Municipal de Saúde conta com duas assistentes sociais, três psicólogas, todos com 22 horas e dois psiquiatras . O impressionante é que presta mais de 900 atendimentos por mês.

– Acolhemos a pessoa, muitas vezes em crise. Depois é realizado o plano terapêutico com todos os profissionais que avaliam cada caso semanalmente, focando a singularidade e o contexto familiar e social. Oferecemos acolhimento, o atendimento individual, grupal, oficinas terapêuticas e articulamos ações com a rede de proteção e o acompanhamento. Dependendo da gravidade, solicitamos internação hospitalar e/ou psiquiátrica –  explica Lenice Garbin, coordenadora do serviço de saúde mental.

Em menos de dez dias, foram duas internações por tentativas de suicídio, uma por surto, uma por dependência química e uma de paciente com quadro psiquiátrico em crise.  Os casos mais frequentes que chegam aos profissionais são de automutilação entre adolescentes e ações suicidas em todas as faixas etárias. O alerta para o aumento de suicídios tentados ou consumados também é corroborado pela psicóloga Letícia Mazetto, pela assistente social Silvia Raquel Giacomini Antunes e pela secretária municipal da saúde Geni Prescendo Tonin. Lenice também comenta que muitos casos nem chegam ao serviço de saúde mental da Secretaria.

Para as profissionais, as causas são variadas, indo de quadros de doenças psiquiátricas até situações pontuais, como relações familiares fragilizadas e a cobrança da sociedade por padrões inatingíveis propagados pelas redes sociais ou na convivência social e crises situacionais.

Raquel lembra que a exposição excessiva do que parecer ser o ideal causa frustração a quem não tem condições de atingi-lo.

A valorização do serviço e a superação

Everton Bittencourt é atendido pela saúde mental do Município. É jovem, bonito e com uma história de vida conturbada. Há cinco meses,  encontrou apoio e acolhimento nas ações dos profissionais da rede. Segundo ele, tudo começou com a desobediência a seus pais.

– Eu namorava uma menina e em uma noite de temporal, minha mãe pediu para eu não ir até lá. Eu fui, me acidentei, perdi o emprego e a relação acabou. Desanimado, acabei na bebida e na droga. Nova namorada, novo fim e outra recaída até chegar à tentativa de suicídio. Quem vê de fora, te julga fraco ou que é “frescura” e não sabe que é muito mais profundo –  relata o jovem.

Leticia acrescenta ao depoimento de Everton que  ocorre o julgamento da sociedade e o preconceito, o que dificulta a busca de ajuda, por isso as pessoas próximas precisam estar atentas para auxiliar na identificação do risco e na procura do tratamento, além do apoio que neste momento de crise é imprescindível. Não estigmatizar pelos sintomas, pois quando acontece uma tentativa de suicídio, por exemplo, isso desequilibra todo o contexto familiar e de convivência.

– O julgamento é terrível – sintetiza a secretária Geni.

A vida mudou para Everton: ele deixou de usar drogas, de beber, de fumar e voltou a estudar, concluiu o ensino médio e prestou vestibular para cursar marketing e atingiu uma excelente média.

– A sociedade não sabe lidar com quem é diferente. – Quero salientar a importância da saúde mental no serviço público.

As duas frases acima são de Vinicius Capellari Gabana. Ele afirma ter pais maravilhosos e ausência de problemas de convivência familiar. O jovem inteligente e falante credita à negação a principal causa de seus problemas.

– Sempre reneguei o sentia pois eu não tinha motivos para isso. Se os sintomas são físicos, as pessoas aceitam, mas quando o psiquiatra diagnosticou depressão, eu não aceitei ter. Aos 16 anos, percebi que eu estava rejeitando momentos bons e então vi que estava errado e procurei ajuda –  relata Vinicius que teve seu primeiro indício de ansiedade aos cinco anos de idade.

Vinicius procurou pelo atendimento médico clínico em uma das unidades de saúde do Município e foi encaminhado para atendimento psicológico. Hoje, ele tem a percepção de que não é natural as pessoas sofrerem por causa disso.

O jovem conta que sofreu na escola por conta de sua opção sexual e isso gerou ansiedade. Ele também alerta: a sociedade não sabe lidar com quem é diferente; e elogia: o serviço da saúde mental na esfera pública é essencial.

Crédito: Sonia Reginato/C+C

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