Tatuagens: histórias contadas na pele

O mercado da tatuagem tem crescido nos últimos anos e o preconceito que existia com ela, foi diminuindo, porém, ainda existe. Em Veranópolis, o tatuador Emerson Alves tatua há 20 anos e possui o estúdio “Tatto Infinity”, desde 2011, por isso, considera-se o mais antigo da cidade. Até hoje, foram milhares de tatuagens e histórias.

Tatuar por necessidade

Muitos são os modelos, desde as mais clássicas, as comerciais, como corações, até as mais inusitadas e especiais. Para Emerson, os motivos de fazer uma tatuagem são: vaidade, homenagem ou necessidade. Isso mesmo, muitos clientes buscam a tatuagem como uma alternativa de cobrir cicatrizes que incomodam, principalmente as mulheres, ou refazer um mamilo para quem teve câncer ou por alguma complicação cirúrgica. 

Para ele, tatuagens deste tipo, são muito especiais: “é gratificante ver a pessoa se olhar no espelho e se emocionar, porque vinha há anos um problema. É quase que uma plástica, você vê as pessoas felizes. Teve um caso em que uma moça tinha perdido o mamilo por causa de uma infecção depois de complicações de uma redução. Quando se olhou no espelho e viu que tinha dois mamilos novamente, ela se emocionou muito, e eu acabei chorando junto”, relata.

Nunca é tarde

Outra história inesquecível para o tatuador foi de uma senhora veranense de 74 anos, que decidiu colocar piercing e fazer duas tatuagens. Todos os dias, a senhora ia mostra-las para ver se estava cicatrizando: “ela entrou aqui e eu achei que estava procurando o salão de beleza, que fica ao lado. Pediu se eu colocava piercing, porque queria colocar um na sobrancelha, me caiu o queixo. Ela contou que sempre quis: ‘agora sou viúva, meus filhos são grandes, eu me governo e quero colocar um piercing. Depois, ela veio fazer as tatuagens. E o que me preocupa hoje, é que perdemos o contato, não sei se ela ainda vive”, diz emocionado. Essa foi a pessoa com mais idade que Emerson tatuou.  

Apagando um amor antigo 

Hoje, as tatuagens não são mais eternas, podem ser removidas com laser ou substituídas com outra. Emerson, faz muitas coberturas e ressalta que quando os clientes falam em tatuar nomes de companheiros, seja namoro ou casamento, aconselha a pensar em outra coisa, como por exemplo, um desenho, que tenha um significado para os dois. “A tatuagem de nomes acho válido quando é nome de pais ou filhos, pois isso nunca vai mudar”, destaca Emerson. 

Cascata fez há pouco tempo uma cobertura muito interessante, que substituiu um amor antigo, por um que jamais irá desaparecer.  Um homem que tinha tatuado o nome da ex-mulher no braço, cobriu a tatuagem com a imagem de um menino de costas, segurando uma bola. Menino que representa o seu filho com a camisa 10, a que ele joga, e no boné, com suas iniciais. “Ele ficou extremamente contente. Toda a família adorou a homenagem, que diferente da outra, nunca precisará ser substituída”, afirma, Cascata.

Marcas do que amamos

Além de familiares, bandas e times, também costumam ser homenageados. E uma constatação dos dois tatuadores, Emerson e Cascata, que são colorados é que são feitas mais tatuagens do Grêmio do que do Inter. Sobre as bandas, Cascata já tatuou a imagem do álbum “The Dark Side of the Moon” do Pink Floyd em uma fã, em um momento mais que especial: no Medi in Rock enquanto tocava um tributo à banda. Sem dúvidas, foi a hora certa de marcar na pele o amor pela banda. 

Pets também são homenageados, Jaqueline Batistti, de Marau que tem na sua casa um pequeno canil, ou seja, pega os cachorros de rua, cuida deles e os coloca para a adoção, quis tatuar a primeira que ajudou e que acabou ficando com ela: a Princesa Às vezes queriam adotá-la, mas ela dizia: “essa não”, e até mesmo a cachorrinha se escondia. Jaqueline adorou a tatuagem, principalmente por ter ficado idêntica à foto da Princesa.

Emoção em tatuar homenagens

Outro tatuador veranense, Cascata Johnn, ressalta que das muitas tatuagens que fez ao longo dos 14 anos a frente do Studio C. Tatto, muitas são homenagens para pais, irmão e pessoas falecidas. Sendo que na maior parte das vezes as pessoas se tatuam porque gostam de um estilo ou de um desenho, que pode estar relacionado com o seu signo, por exemplo. 

Dentre as lembranças está a que duas irmãs fizeram para o irmão falecido. “A gente estava conversando e eu acabo entrando na história, preciso me controlar, para não me emocionar demais e por em risco meu trabalho. O irmão tinha falecido jovem, tatuaram asas de anjo com uma auréola em cima e o nome embaixo”, recorda.

Às vezes, uma tatuagem que parece comum, também tem um significado emocionante. Uma vez, Cascata tatuou a frase: Pai nosso que está no céu”. Inicialmente ele pensou: “é uma frase de oração, algo comum”. Mas por conhecer a pessoa, acabou pedindo o motivo da tatuagem, eis que era uma homenagem ao pai que havia falecido por causa de um câncer. “Muitas vezes quando você começa a conversar, pensa: ‘ai, porque eu fui perguntar’. É difícil não se sensibilizar com estas situações, mas preciso me concentrar na tatuagem”, ressalta.

O preconceito ainda existe

Por causa do preconceito que ainda existe, principalmente no mercado de trabalho, Emerson conta que já negou muito tatuar no rosto: “chega um guri que fez 18 anos e quer tatuar “Vida Loka” do lado da sobrancelha, eu não faço! Sei que isso vai estragar a vida da pessoa, que talvez, ainda nem entrou no mercado de trabalho. Existe bastante preconceito hoje, principalmente em relação a empregos. Na disputa de uma vaga com alguém com a mesma qualificação que a tua, uma tatuagem no rosto, sem dúvidas vai influenciar na desclassificação”, afirma, o tatuador Emerson. 

 

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