Governo do RS só cogita mudar classificação de risco se houver erro nos dados

Somente um eventual descompasso nos dados dos 11 indicadores adotados pelo governo do Estado na concepção das bandeiras de risco pode levar o governador Eduardo Leite a rever a classificação de tingiu de vermelho quatro regiões do Rio Grande do Sul neste final de semana. 

Mesmo com a reação indignada de prefeitos e empresários da Serra, da Região Central, da Fronteira Oeste e das Missões, Leite considera fundamental manter os critérios de distanciamento controlado, sobretudo diante do avanço da pandemia pelo Interior. O governador irá se reunir por videoconferência com cinco prefeitos de cada região na tarde desta segunda-feira (15), mas reafirmou que não há espaço para concessões fora do modelo científico.

— Não se negocia com a vida, com a saúde da população — disse Leite em entrevista ao Jornal do Almoço, da RBS TV

O caso mais emblemático de desencontro nas informações é o de Uruguaiana. A prefeitura deixou de incluir no sistema oito leitos de UTI que estão desocupados. Todavia, pode ser que sozinho esse indicador não seja suficiente para a regressão da bandeira vermelha para laranja. Isso porque a Fronteira Oeste como um todo registrou aumento de 130% nas hospitalizações por covid-19 nas últimas semanas, passando de seis para 14 pacientes. Já o número de óbitos passou de um para quatro, dois deles somente em São Gabriel.

— Se você não parar agora, lá na frente a conta vai ser maior, tanto em vidas, na saúde das pessoas, quanto na economia — afirmou Leite, explicando que a classificação por bandeiras analisa o comportamento da pandemia nas semanas anteriores para projetar o grau de contágio e internações nas semanas seguintes.

A reação contra as quatro bandeiras vermelhas começou no final de semana. No domingo (14), os prefeitos discutiam em grupos de WhatsApp formas de reagir, ensaiando uma desobediência coletiva às novas normas de distanciamento social. Pressionado pelos políticos, o líder do governo na Assembleia, deputado Frederico Antunes (PP), telefonou para Leite na noite de domingo. Eles combinaram, de se reunir na manhã desta segunda-feira para buscar uma pacificação.

Logo cedo, porém, causou ainda mais tensão a declaração do procurador-geral do Estado, Eduardo Cunha da Costa, de que haveria criminalização da conduta dos prefeitos. Costa lembrou que os gestores poderiam responder na esfera cível e também na criminal, por eventual descumprimento de medida sanitária determinada para impedir propagação de doença contagiosa.

Nos bastidores, a afirmação de Costa foi vista como precipitada, por dificultar um diálogo. Mas entre pessoas próximas a Leite houve também quem classificasse a fala como um aviso aos prefeitos mais exaltados. As reuniões do governador irão se estender durante à tarde, com uma hora para cada região, das 15h às 19h. O governo pretende amenizar o tom ríspido das discussões e até mesmo rever eventuais incorreções, mas não há disposição para mudanças que fujam ao escopo técnico e científico dos critérios.

Auxiliares de Leite entendem que já houve uma flexibilização na semana passada, quando o Piratini permitiu que municípios com bandeira laranja montem seus próprios modelos locais de ocupação de espaços públicos e privados, o que na prática relaxou a quarentena. Embora o decreto tenha sido concebido para atender quase que especificamente as circunstâncias de Porto Alegre, houve críticas ao ambiente maior liberalidade criado pelas novas regras.

Com a interiorização cada vez maior da pandemia, Leite entende que não há margem para recuos que possam causar um colapso do sistema hospitalar, principal critério usado nas classificações de risco. Mesmo apostando na conciliação, ele não desautorizou Costa e voltou a falar em acionar os prefeitos na Justiça.

Fonte: Gaúcha ZH

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