Saiba como funciona a preservação da água que abastece Caxias

Antes de ir para as Estações de Tratamento de Água (ETAs), a água utilizada por Caxias do Sul é bombeada a partir de pequenos lagos, que formam as bacias hidrográficas localizadas na região e são usadas para o abastecimento. Por mais que a água seja tratada, ela deve ser preservada e o ideal é que não seja poluída na origem. No município, existe uma lei que regulamenta essa proteção, com fiscalização feita pelo Serviço Autônomo Municipal de Água e Esgoto (Samae). Na segunda parte da série especial sobre o meio ambiente em Caxias, que busca analisar o cenário caxiense a partir da  arborização urbana e em parques, combate à poluição em bacias, tratamento da rede de esgoto, proteção e bem-estar animal e coleta de resíduos, a reportagem do Pioneiro aborda o trabalho feito para evitar a contaminação da água usada para o abastecimento na cidade (a primeira parte da série, sobre a coleta de resíduos, pode ser lida aqui).

A água de Caxias sai das bacias Dal Bó, Maestra, Marrecas, Samuara e Faxinal. Pela Lei Complementar nº 246, de 6 de dezembro de 2005, elas estão nas chamadas Zonas das Águas, onde ocorre a captação para o início do processo de abastecimento. Esses locais, porém, não estão livres de propriedades, sejam particulares ou comerciais. É nesse ponto que também entra a fiscalização para proteger o recurso natural, feito pelo departamento de Recursos Hídricos do Samae. Geralmente, a ação para evitar uma contaminação da água, é feita no sentido de orientação sobre o que é permitido, além do controle das atividades nas Zonas das Águas.

— Em áreas de bacias, o pessoal diz que há muitas restrições, que não podem fazer nada. Na verdade, você pode fazer as suas atividades, desde que peça orientação de forma correta. Existe a forma correta de fazer tudo, de manter na bacia de captação, com qualidade de vida. Mas, também cuidando da questão da água, porque dali vai vir a água para 600 mil habitantes — explica Neiva Rech, gerente de Recursos Hídricos do Samae.

Por exemplo, o cultivo de culturas nestas áreas não pode ter agroquímicos, da mesma forma que a criação de animais deve ter um controle na produção de resíduos e líquidos. Porém, um dos obstáculos encontrados atualmente é a poluição por conta de esgotos domésticos que não estão conectados na rede municipal, e assim podem ser despejados em locais que podem poluir os mananciais.

As Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs) surgiram também com a finalidade de solucionar o problema. Mesmo assim, há cidadãos que, ainda hoje, não conectaram a rede da sua propriedade com a municipal.

 —  A rede de esgoto no Samae teve como premissa melhorar o saneamento dessas áreas. As primeiras estações de esgoto do município foram implantadas nas bacias de captação, no bairro Serrano, em que tem a bacia da Maestra, e depois a ETE Dal Bó, que pega o Complexo Dal Bó. Foi justamente para retirar o lançamento do esgoto de dentro das represas. Hoje, continuamos com essa fiscalização, que envolve também a divisão comercial. As bacias estão plenamente saneadas? A gente sabe que existe um descarte irregular de esgoto doméstico porque há pessoas que não estão ligadas na rede, então o Samae vem trabalhando forte nisso para que as pessoas façam a ligação do esgoto onde a rede passa — destaca Janaina Ribeiro Velho, superintendente de Recursos Hídricos do Samae.

A água das bacias é captada pelas estações de tratamento, que transformam essa “água bruta” em própria para consumo. Mesmo com este processo, o ideal é que a água seja preservada nas bacias, ainda mais quando, de acordo com o Samae, Caxias tenha consumido cerca de 1 bilhão de litros em abril, que seria uma média do município — individualmente, há consumo diário de 120 litros por dia (abaixo da média nacional, que é de 200 litros por dia).

Para melhorar essa proteção, a autarquia também está fazendo um trabalho voltado para a zona rural, que geralmente tem propriedades isoladas e com maior dificuldade para serem ligadas à rede de esgoto.

 —  Uma solução é trabalhar nas comunidades e na própria propriedade, fazendo o saneamento. Então, tem uma cartilha que a gente trabalha de forma individual com os produtores, na propriedade. É feita uma instalação do sistema de esgoto e também a questão de proteção das fontes de água — conta Neiva Rech, que lidera a ação.

A mesma rede de esgoto também traz outros benefícios para Caxias. Um deles, por exemplo, é evitar um pouco da poluição em outros arroios, como o Tega — mesmo que não seja usado para abastecimento. Mas, além disso, pode ser importante para evitar doenças e melhorar a qualidade de vida e bem-estar dos caxienses.

Tratamento de esgoto é fundamental para o meio ambiente

Sem o tratamento de esgoto, tudo o que é despejado nas pias, vasos sanitários e ralos seria destinado diretamente à natureza, o que prejudicaria a preservação do meio ambiente e poderia estimular a proliferação de doenças, como a leptospirose ou a cólera. Em Caxias, quase 80% da rede de esgoto é tratada, com projeção para que passe a 90% nos próximos anos, com base no Marco do Saneamento, que estipula esta meta para todos os municípios brasileiros até 2033. A previsão é de que a meta seja cumprida ao expandir a rede de esgoto, construindo ETEs em locais que ainda não tenham uma ou criando um bombeamento para que a nova rede seja redirecionada para uma estação existente. O Samae, por exemplo, já estuda o que fazer em regiões como a dos bairros Rio Branco, São Caetano e Bom Pastor. Outros pontos que devem ser saneados são os que envolvem a Bacia do Cristal (na região de Parada Cristal e Ana Rech) e a parte da Maestra, que está em direção ao sentido para Monte Bérico.

Ao mesmo tempo, a autarquia prevê expandir a rede de esgoto com o sistema separador, o colocando no lugar da rede mista. A diferença é que o sistema separador não junta o esgoto sanitário e a água da chuva, enquanto a rede mista recolhe os dois, o que pode causar uma sobrecarga nas tubulações e nas Estações de Tratamento de Esgoto. Ao mesmo tempo, esta separação permite um aumento de eficiência no tratamento, que devolverá uma água em melhores condições para a natureza. Hoje, o investimento para a expansão e também a troca é alto, com valor de cerca de R$ 400 por metro linear de rede.

 —  O benefício da coleta e afastamento do esgoto é a questão da tubulação estar passando na frente da tua casa e aí o esgoto não vai para a rua. Sobre o tratamento, ele já é um benefício mais abrangente, porque se tu não fizer isso, o esgoto vai direto para os arroios. Temos que pensar também que esses arroios que podem receber esse esgoto podem servir de captação de água para outras cidades, como São Sebastião do Caí, Porto Alegre… É uma responsabilidade ambiental de quem está utilizando essa água e tratando seu esgoto para lançar lá na frente um efluente bem mais parecido com a qualidade do arroio que está aqui  —   observa Gerson Panarotto, superintendente de Planejamento e Obras do Samae.

Uma preocupação que se repete são as residências que não se conectam à rede de esgoto municipal. Além disso, há um problema bastante parecido com um vivido pelo segmento da coleta de resíduos. Há quem use o vaso sanitário para descarte incorreto de materiais como fraldas, da mesma forma que aquele lixo deixado na rua pode parar na rede de esgoto por causa da água da chuva. Panarotto lembra de casos em que sofás, pneus e até bicicleta foram encontrados nas galerias subterrâneas, o que dificulta a passagem da água e pode comprometer a estrutura.

Fonte:Pioneiro

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