Como os municípios pequenos da microrregião enfrentam o isolamento social?

Cidades pequenas, próximas de Veranópolis, seguem à risca as medidas de isolamento social. As características de Vila Flores, Fagundes Varela e Cotiporã são semelhantes, nelas, a calmaria e a pouca aglomeração são comuns. O número de estabelecimentos comerciais e população que não chega a quatro mil habitantes, fazem com que os impactos da pandemia não sejam tão evidentes quanto em cidades maiores, mas eles existem sim. Uma particularidade dos municípios da região são os tradicionais encontros de domingo na comunidade para jogar a tradicional “bisca”, assistir missas e cultos, e claro, as tão esperadas “festas de capela”, que estão fazendo falta.

 

Fagundes Varela 

 

Com cerca de 2.731 habitantes, de acordo com estimativa do IBGE, Fagundes Varela, segundo a Prefeita Cláudia Moreschi Tomé, tem 50% da sua população vivendo na zona rural. “O isolamento, para estas pessoas, já acontece de forma natural, sendo que eles buscam acessar o centro da cidade somente por motivos de grande necessidade”, explica. Além deste fator, outro que contribui é o pequeno número de estabelecimentos comerciais, com espaço físico amplo, que mesmo em dias normais, não geram grandes aglomerações.

O bar-lancheria La Bodega, localizado no centro da cidade, no início do isolamento social, suspendeu o atendimento ao público, possibilitando apenas a retirada dos pedidos no local. A proprietária, Aline Galante Zandoná, afirma que o movimento diminuiu bastante, principalmente porque a venda de bebidas caiu significativamente. “Agora, voltamos a atender o público no local, mas respeitando todas as regras da diminuição da capacidade em um terço, distanciamento das mesas e questões de higiene”. Mesmo após a liberação do atendimento, poucas pessoas ficam no restaurante, elas preferem levar os alimentos para casa.

Em relação aos encontros e eventos nas comunidades, o mais difícil, tem sido manter os bares e salões fechados, justamente por serem locais de encontro e aglomeração muito tradicionais na região. “Em determinados casos, somos surpreendidos pela necessidade de nos reinventar, e voltamos a utilizar até o tradicional alto falante da Igreja para acompanhar as missas”, destaca.

Para a prefeita, o ano será marcado negativamente para a economia do município, especialmente pela baixa movimentação do comércio, redução da produtividade e vendas nas indústrias, bem como a paralisação dos prestadores de serviços por determinado período. “Ainda não tivemos demissões em grande escala, mas diminuição de carga horária e salários sendo pagos proporcionalmente. Aliado a isto, ainda temos as perdas decorrentes da produção agrícola, ocasionadas pela estiagem”, destaca.

Destaques positivos

No enfrentamento à pandemia, duas áreas se destacam na cidade, uma delas, é a da saúde, que programou suas ações adquirindo Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), reorganizando serviços, realizando capacitações e fazendo contato telefônico com membros do grupo de risco, sendo que em duas semanas, foram realizadas mais de 500 ligações. Além disso, estão sendo distribuídas máscaras à população. E a outra área que se destaca, inclusive no contexto estadual, é a educação, com campanhas como a “Espalhe Amor por aí” da Escola Municipal Caminhos do Aprender. “Estamos muitos orgulhosos com essas iniciativas da escola Municipal, que além de um ato de amor e solidariedade, nos unem em uma rede positiva de responsabilidade com o outro e de compartilhamento de atitudes do bem”, destaca.

Fazendo uma avaliação, Cláudia conclui que a maioria da população se conscientizou, obedecendo o isolamento, principalmente com relação aos serviços de saúde, adiando consultas, exames e procedimentos eletivos. Entretanto, ela destaca que alguns grupos não se conscientizaram quanto ao distanciamento social, pois continuaram se reunindo em praça pública, por exemplo.


Vila Flores 

 

Centro Administrativo de Vila Flores
Praças já não podem mais ser locais de encontros, por enquanto! (Foto: Francine Ghiggi)

No total, foram nove decretos e duas ordens de serviço com medidas sobre o coronavírus até agora, em Vila Flores, município que possui 3.385 habitantes. Segundo o Prefeito Vilmor Carbonera, o impacto das medidas é proporcional a cada município. “O fato de sermos de pequeno porte não nos faz passar imunes. Por exemplo, temos o turismo crescendo nos últimos anos e, dentro disso, diversas atividades que envolvem a questão de reunir pessoas. Certamente o nosso comércio é impactado pelo fato das pessoas não circularem, sejam moradores ou visitantes, assim como em cidades maiores”.

Economicamente, Vila Flores será impactada, segundo Carbonera, principalmente nas atividades relacionadas à indústria, comércio, prestação de serviços, agricultura e turismo. “O objetivo é buscar formas de minimizar essa situação, com planejamento e traçando diferentes estratégias, dentro das possibilidades”.

Segundo Vilmor, a administração buscou orientar a população, mas sem causar alardes. “É uma situação nova para todos, mas sentimos que, no geral, a população está consciente e lidando de forma tranquila, seguindo as medidas, se adequando a realidade atual e, esperamos que, momentânea’. O serviço de saúde do município adequou-se às medidas e está sendo disponibilizado para a população material informativo sobre o vírus, além de máscaras confeccionadas por artesãs voluntárias.

Ajuda ao próximo

O Poder Público, incluindo prefeito, vice, gabinete da primeira-dama, secretários, cargos comissionados, funções gratificadas, servidores e os vereadores, está realizando uma ação voluntária para auxiliar as áreas com mais necessidade, em parceria com a Liga Feminina de Combate ao Câncer vilaflorense. “Cada um doará parte dos seus rendimentos e eles serão arrecadados via Liga e revertidos em produtos ou auxílio para a Unidade Básica de Saúde, CRAS e Hospital Comunitário São Peregrino Lazziozi de Veranópolis, que é referência para o município”, explica.

As escolas municipais estão organizando uma ação solidária para auxiliar as famílias que necessitam. Desse modo, cada educandário irá arrecadar produtos diferentes, os quais, serão reunidos para formar cestas básicas. A EMEF Doze de Maio arrecadará alimentos não perecíveis e a EMEI Nostri Bambini, produtos de higiene pessoal e itens de limpeza geral. As doações serão recebidas quando os pais se forem às escolas para entrega e retirada das próximas atividades dos alunos. O atendimento ocorrerá nesta quarta-feira, dia 29, das 7h às 13h, e quinta-feira, dia 30, das 12h às 18h


 

Cotiporã 

 

Centro de Cotiporã
Distanciamento social impacta no dia a dia das pessoas. (Foto: Isaac Merlo)

A generosidade e preocupação com o próximo são observadas em Cotiporã, segundo o prefeito José Carlos Breda. Empresas e entidades do município estão doando EPIs e valores em dinheiro, auxiliando a área da saúde. Além disso, foram entregues cestas básicas para 30 famílias pela Secretaria de Educação e Desporto.

Breda destaca, que num primeiro momento, a população ficou surpresa com as determinações, principalmente por causa dos encontros tradicionais, que fazem muita falta para os moradores. Entretanto, entendem que o objetivo é garantir a saúde. O prefeito afirma que no início do isolamento, foram enfrentadas algumas dificuldades pontuais em relação aos bares.

O município, que possui 3.853 habitantes teve quatro casos descartados de coronavírus e alguns pacientes foram encaminhados ao isolamento domiciliar. Segundo Breda, a Secretaria da Saúde se adequou às normas recomendadas pelas autoridades estaduais e federais de saúde, sendo assim, foi redobrada a atenção e o monitoramento dos possíveis focos de contaminação e houve o aumento no número de profissionais disponíveis para atendimento na UBS.

Impactos econômicos

Os impactos econômicos, sem dúvidas, atingirão os municípios, Breda destaca que no momento é difícil mensurar, mas que será muito significativo. “A indústria e comércio, num primeiro momento, sofrerão uma redução de aproximadamente 30%. As finanças municipais também serão afetadas na mesma proporção, sendo estimada uma perda inicial de mais de 2 milhões de reais”.

Das atividades econômicas do município, a mais afetada foi a área do turismo e produção de joias, alcançando também as esquadrias. As áreas com menor impacto foram os frigoríficos, agroindústria e agricultura, por serem atividades essenciais.

A lojista Helena Trevisan, proprietária da Bella Persona, que vende roupas e artefatos, cama, mesa e banho, afirma que ficou muitos dias com a loja fechada. “É um prejuízo total! Reabri a loja na segunda-feira, e está voltando devagar, mas não é fácil”. A loja que fica no centro de Cotiporã há 15 anos também oferece serviços de costura e venda de uniformes escolares.

Para Helena, os primeiros dias do isolamento foram de desespero, depois de um tempo, ela pode voltar com a costura, produzindo máscaras, mas com a porta fechada. “Estamos tocando a vida do jeito que dá, não sabemos o que dizer, o que fazer. Temos que esperar que o melhor aconteça, que tudo volte ao normal logo”, coloca.

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