Parteira: Para a Irmã Lourdes, o parto é a explosão da vida

Irmã Lourdes Domeneghini, hoje com 73 anos, também foi parteira em Veranópolis. Ela veio para a cidade em 1975, e permaneceu atuando no antigo Hospital Nossa Senhora de Lourdes até o ano de 2000, quando ele encerrou suas atividades. 
Apesar de possuir formação acadêmica na área, foi com Irmã Laura, que Lourdes ganhou experiência. “Ela foi uma grande mulher, aprendi muito com ela. Inclusive, existe hoje, em Veranópolis uma creche com o seu nome”, afirma. 
Alguns partos eram feitos por elas, e outros elas acompanhavam os médicos, porém, sempre estavam junto naquele importante momento para as mães; inclusive antes, na preparação, e depois, auxiliando com os cuidados.

“Acompanhávamos as gestantes com muito carinho. Tinha mais uma irmã, a Terezinha Reginato, que dava toda a assistência às mães depois do parto, para cuidarem dos bebês”, coloca. 
Ao todo, Irmã Lourdes, acompanhou cerca de 7 mil partos. Teve uma época que o número de nascimentos que ela realizou e acompanhou era equivalente a um terço da população da cidade. Segundo ela, a Irma Laura participou de um número ainda maior de partos, juntamente com os médicos Mauro, Mário, Regina e Fernanda. 

24 horas de dedicação 

As irmãs moravam no hospital. Então, em muitos momentos, as gestantes chegavam em trabalho de parto e não havia tempo de chamar o médico, elas mesmas realizavam. Era um serviço em prol da vida durante 24 horas. 
O sentimento que Lourdes tem pelo parto é muito lindo: “O parto sempre é um momento bonito, é a explosão da vida; todo o sofrimento antes e durante o trabalho, depois se transforma em vida, em alegria”, ressalta, orgulhosa pela função que realizou durante 25 anos na cidade. 

 

Irmã auxiliou na chegada de muitas crianças.

Ao longo desses anos, aconteceram muitos fatos marcantes. Às vezes faltavam vagas no hospital, não tinha leitos disponíveis e chegavam gestantes, o que preocupava muito as irmãs que nem sequer conseguiam dormir. “Diversas vezes eu levantei da cama para atender gestante em trabalho de parto e não tinha aonde colocá-la. Eu tirava o colchão do meu quarto e colocava a gestante até ganhar o filho e ter alta. Ficava alguns dias sem ter nem onde reclinar a cabeça, mas isso eu fazia com muita alegria e prazer. Era vida que chegava!”, muito feliz, relata. 
A maioria dos partos que Lourdes fez sozinha foram no hospital, mas um, em especial, foi à domicílio. Durante a tarde, uma família chegou e pediu à Irmã, que urgentemente fosse até a casa deles, pois a criança estava para nascer. “Tínhamos sempre o material para realizar o parto separado, então eu fui rapidamente. A mãe estava preparando o pão em uma grande bacia e sentiu que a bolsa rompeu, então, nasceu a criança. Foi no frio de julho, era um menino, que nasceu prematuro com sete meses. Acolhemos ele que, juntamente com sua mãe, ficou muito bem”, afirma. 
Também teve outro caso inesquecível para a Irmã, a realização de um parto em uma mãe surda e muda, segundo Lourdes, foi uma experiência incrível. 

Filhos para a adoção 

As irmãs acompanharam muitos casos em que as mães deixavam os filhos para a adoção, eram cerca de três a quatro por ano. “Na madrugada de um domingo, chegou uma gestante com uma revista debaixo do braço e um pente, apenas isso. Estava em trabalho de parto, não deu tempo de o médico vir, então eu fiz o parto. Ela deu um endereço qualquer e os colocamos no quarto. De manhã cedo, fomos levar o café para ela, mas não estava mais no quarto, deixou o bebe para nós. Procuramos o endereço para encontrá-la, mas não existia. A criança precisou ser encaminhada para a adoção, o que era comum na época”, relata. 

Homenagem

Depois de 2000, a Irmã encerrou as atividades como parteira e trabalhou em Guaíba, Rio Grande e São José do Norte. Atualmente, reside em Porto Alegre. “Em Veranópolis eu trabalhava com a chegada da vida, os partos, agora, estou com as irmãs idosas, trabalho com a partida para o céu, são lados opostos”, conta. 

 

No último sábado, dia 11, por causa da dedicação e amor que Lourdes tem pelo trabalho que realizou em Veranópolis, foi homenageada em evento na Sociedade AlfredoChavense. 

 

 

Na região, cada leitor recorda de alguém que desempenhou a função de parteira. Cada comunidade tinha a sua, por décadas. Alguns nomes destacam-se, como: Erminia Liberali Piccoli, Erondina Picolli Lazzarotto, Mafalda Dal Pian Broetto, Matilde Belenzier (Fagundes Varela), Ana Elisa Moro Nardino e Dosolina Dal Ago (Cotiporã).

Reportagens da série “Parteira: o ofício da chegada da vida” contaram com a colaboração de Denise Zanettini, Casa da Cultura e grupo do Facebook Veranópolis Aprecie e Regitre enquanto ainda estão de pé.

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