Paternidade construída no dia a dia

Ao descobrir a gravidez da companheira, o homem se vê diante de uma mistura de sentimentos e emoções. Pode se sentir alegre, realizado, assustado, preocupado e empolgado, tudo ao mesmo tempo. Este momento faz com ele se depare com uma série de incertezas que o farão repensar seu papel de filho, marido e homem, na construção do novo papel que irá desempenhar, o de pai.

Na atualidade, convivemos com diversas configurações de pais. Aqueles que apenas geraram, os que criam como se fossem seus, muito jovens, e até mesmo aqueles, que tornam-se pais após uma certa idade – ou que já haviam conhecido esta alegria durante a juventude, e com o passar dos anos foi agraciado novamente com a chegada de outro filho.

Temos visto que cada vez mais, os pais têm participado da criação dos filhos, compartilhando tarefas e estando, de fato, presentes no dia a dia da casa. Cuidar, educar, participar, escutar, aconselhar… Isso tudo é obrigação tanto da mãe, quanto do pai. Portanto, o homem não tem que “ajudar” a mulher nas obrigações que dizem respeito à família e aos filhos. O homem precisa exercer sua paternidade, dividindo as responsabilidades, cuidados e obrigações na criação dos filhos.

O relacionamento entre o pai e o bebê vai sendo construído no dia a dia e a qualidade desse vínculo também depende do quanto a mãe incentiva e estimula a relação. Para a maioria das crianças a figura paterna representa segurança, responsabilidade e realidade, sendo uma importante referência para o desenvolvimento emocional da criança. Vale lembrar que o homem não nasce pai, ele se torna pai ao longo da experiência.

O nascimento de um filho é um marco na vida de qualquer pessoa

Artur Tadeu Rodrigues Alves, 62, natural de São Paulo, foi pai ainda jovem. Recém formado e em seu primeiro casamento, a notícia da chegada de sua primeira filha foi para ele um marco. “Foi uma situação completamente natural da vida”, conta. Para ele também, foi uma fase em que o trabalho teve de ser redobrado. Com um espaço de dois e três anos entre elas, Artur foi pai de três meninas, que hoje já se encontram na fase adulta da vida.

“Foi uma fase em que eu tive que me virar para sustentar a família toda. Acabava por sair de manhã muito cedo, quando elas estavam ainda dormindo e quando retornavam, elas já tinham ido para a cama. E houve outro momento da minha vida profissional, que eu só dormia três noites em casa. Acabei por perder muito da infância, crescimento e desenvolvimento delas. Quando finalmente passamos a ter um pouco mais de folga nas contas, as meninas já estavam mais crescidas”, revela.

Artur mudou-se para o Rio Grande do Sul para atender a uma proposta de trabalho, novas oportunidades surgiram e muita coisa aconteceu. Após o nascimento da terceira filha, Artur e sua primeira esposa decidiram por não ter mais filhos, logo, ele passou por um procedimento de vasectomia. As mudanças também foram em seu casamento, o qual passou por um processo de divórcio, o que fez com que ele e suas filhas acabassem por se distanciar. Anos depois ele casou-se novamente e diante do sonho de sua companheira em ser mãe, eles procuraram o auxílio de uma profissional em Bento Gonçalves para realizar uma fertilização in vitro.

“Minha filha caçula não veio por um método ‘natural’, todo o processo foi diferente. A gravidez não ocorreu no primeiro implante, o que me trouxe uma experiência ‘estranha’, pela qual eu ainda não havia passado. Na segunda, aconteceu a gestação. Por ela já não ser mais tão jovem, isso nos trouxe um pouco mais de preocupação. Mas tudo correu bem, e hoje a Bibiana está perto de completar seus quatro anos”, comenta.

A pequena transformou a vida de Artur e trouxe olhares diferentes para a paternidade. São cuidados, mudanças de postura e tentativas em adaptar-se a rapidez dessa nova geração. “Os pais acabam por criar muros na tentativa de proteger os filhos de influências ruins. Uma hora esses muros são transpostos. Ao invés de criá-los de concreto, tenho criado eles de vidro, para que ela possa ter a visão deste outro lado do muro e seja capaz de realizar o julgamento correto das coisas”, explica Artur.

“Hoje posso estar presente, mas vejo o quanto está passando rápido demais, ela está crescendo muito rápido. E hoje, pelo tempo que eu tenho ainda de vida, que é completamente diferente, a preocupação existe no sentido de o quanto ainda vai durar, pois quando ela nasceu, eu tinha 58 anos, paro para pensar, quando ela estiver se formando na faculdade, eu estarei com 85, será que eu vou estar vivo ainda? Eu não sei”, questiona.

Artur tornou-se avô há pouco tempo, e isso fez com que ele reatasse laços com a filha Taís, e ele revela estar disponível para retomar o relacionamento com as outras duas.

“O que é ser pai, é uma pergunta complexa. Ao mesmo tempo em que é gratificante ser pai, é completamente desafiante de uma forma diferente de 36 anos atrás, quando fui pai pela primeira vez. A gratificação é equivalente, mas o desafio é bastante diferente. Você tem um momento de preocupações que anos atrás não existiu para mim, por conta da tamanha ocupação de horário, mas que aconteceria da mesma forma”, reforça.

Para concluir, ao ser questionado sobre o fato de ter conseguido ou não se adaptar ao ser pais nesses novos tempos, ele afirma não saber. “Ao longo do tempo, a gente vai vivendo tudo isso. Estar adaptado é uma pergunta que a gente não tem como responder, de verdade tu só vai saber se o teu trabalho como pai foi bom ou não no futuro, quando os teus filhos te mostrarem o que eles se tornaram, antes disso, não tem como você saber. Você faz o seu melhor sempre, você não quer errar. Mas estar adaptado, não sei o que isso quer dizer”, encerra.

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