Simplicidade e coragem para assumir os desafios

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Dona Zélia Brandalise Fiori jamais imaginou que assumiria tantas responsabilidades, e que um dia seria a primeira prefeita de um município

De origem humilde, em uma época em que os estudos eram coisas apenas para meninos, Zélia Brandalise Fiori carregava consigo o sonho de ir à escola e formar-se professora. E assim ela o fez. Com apoio de seus pais e sem falar muito bem o português, ela iniciou sua vida escolar. A menina, tida como tímida, na verdade tinha vergonha de falar errado e esperou o momento certo para assim arriscar-se a fazer perguntas e participar da aula.
“Eu sempre lembro que desde pequena eu queria estudar. Fui então para a casa da minha madrinha em Veranópolis. Eu já sabia ler e escrever, mas não conseguia conversar. Eu tinha medo de falar algo e meus colegas rirem. Até quando consegui dominar o idioma”, revela.

A menina sonhadora cresceu e alcançou o seu sonho, conquistado a troco de muito trabalho. Durante todo esse período, ela precisou trabalhar na casa de algumas famílias para poder seguir seus estudos. Logo tornou-se muito conhecida, afinal, fora professora de boa parte das pessoas que moravam no distrito de Vila Flores e também trabalhou como diretora. Anos mais tarde, a vida tomou um rumo o qual Zélia jamais imaginara: os moradores ansiavam pela emancipação e decidiram por constituir uma comissão, na qual ela foi primeira secretária.
No dia 12 de maio de 1988 foi oficializada a criação do município de Vila Flores e em 17 de julho do mesmo ano foi realizada uma Consulta Popular para escolher prefeito e vice. A mais votada, Zélia Brandalise Fiori, passou a ser a Chefe do Executivo Municipal. “Receber todos aqueles votos foi uma surpresa, porque eu não imaginava. Foi um novo desafio que se apresentou e eu não fugi dele”, comenta.

O início não foi nada fácil. Seu primeiro gabinete foi uma sala cedida por uma escola, assim como o material de escritório. Seu Plano de Governo e discursos eram todos feitos à mão, que depois eram passados a limpo em uma máquina de escrever. “A nossa história começou muito simples, como simples é a vida da gente”, complementa.
Tudo isso foi um marco, afinal, na época assim como ainda acontece na atualidade, não haviam tantas mulheres altos cargos na política e Zélia foi a primeira na microrregião a chegar ao executivo. “É um marco importante, fui a primeira prefeita do município e a primeira mulher. Me parece que tudo foi um sonho, pois foi um trabalho bonito, legal de se realizar. Foi gratificante”, reflete.

“Tenho muito orgulho do que Vila Flores se tornou, graças aos primeiros passos, ensaiados lá atrás. Tudo para mim foi muito importante, desde a compra do primeiro lápis, até a primeira máquina. Guardo até hoje o primeiro Plano de Governo como uma boa recordação, olhar como as coisas mudaram. Fui aquela pessoa que viveu o ontem e estou vivendo o hoje”, conta dona Zélia.

Após os quatro anos de seu mandato, dona Zélia concorreu à reeleição, mas não a obteve. Isso não a desanimou, ela retornou a fazer o que tanto amava, que era trabalhar com Educação. Ela retornou à Delegacia de Ensino de Bento Gonçalves (que hoje tornou-se a Coordenadoria de Educação), da qual ela havia se licenciado antes da primeira eleição.

“Foi uma caminhada que me ensinou muito mais que uma Universidade, que uma Pós-Graduação, muito mais que um Mestrado. Era um compromisso muito grande, pois eram 24 municípios que dependiam do nosso trabalho. Eu cresci e aprendi muito nessa fase da minha vida”, diz.

Hoje aos 78 anos, dona Zélia, se sente muito feliz por toda a sua trajetória. Mesmo aposentada, ela segue fazendo trabalhos voluntários fazendo casaquinhos de crochê para o Hospital Santo Antônio em Porto Alegre e também no Filó Italiano de Vila Flores.

“Nunca imaginei que passaria por toda essa trajetória. Eu olho para tudo que eu vivi e digo sempre ‘como Deus foi bom comigo, como Ele me fez crescer’. Sempre assumi tudo com muita coragem. Tenho meus filhos todos bem criados, encaminhados na vida. Acredito que aquela Zélia criança sentiria muito orgulho da Zélia de hoje. Sou uma mulher muito realizada”, encerra.

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