Outono gaúcho continua sendo propício para desenvolvimento do mosquito da dengue

Apesar dos dias frios, ainda não é possível baixar a guarda com os cuidados contra a doença

A chegada dos dias frios ao Estado não faz com que a dengue deixe de ser uma preocupação. A condição climática típica do outono gaúcho, com bastante variação térmica, chuva e umidade, pode ser propícia para o desenvolvimento do mosquito transmissores da doença, o Aedes aegypti. Os especialistas enfatizam a importância de manter os cuidados para evitar a propagação da contaminação.

A condição ideal para o desenvolvimento do Aedes aegypti é quando há presença de água, umidade e temperatura entre 20°C e 30°C. Segundo Mariana Soares da Silva, virologista e pesquisadora do Laboratório de Microbiologia Molecular da Universidade Feevale, isso faz com que o mosquito adulto tenha menor tolerância a temperatura baixa. Os ovos e as larvas, porém, são mais resistentes ao frio.

Quando temos uma intensificação do frio e períodos de seca, também temos uma diminuição na população de mosquitos adultos. Então é natural que, com a chegada do inverno, a doença desacelere. Mas é importante ressaltar que não temos um clima totalmente estável. Os ovos estão por aí esperando umidade e temperatura alta para eclodir e alguns dias com essa condição climática já é o suficiente — explica.

O ciclo de vida do Aedes aegypti começa com a fêmea depositando seus ovos em recipientes com água parada. Em cerca de dois a três dias, os ovos eclodem em larvas, e estas se desenvolvem em pupas em até 10 dias. Após esse estágio, emergem como mosquitos adultos. Mariana afirma que o ciclo pode aumentar de 10 a 15 dias no inverno, por causa da temperatura.

— O que temos que ver é se a temperatura será baixa o suficiente para que os adultos não sobrevivam. Tem que ser um frio bem rigoroso — acrescenta. A especialista explica que o mosquito já está adaptado aos valores próximos dos 15°C e 20°C. Em Porto Alegre, a temperatura mínima média do mês de abril é 16,8°C, conforme dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).

De acordo com Guilherme Alves Borges, meteorologista da Climatempo, a previsão para as próximas semanas ainda é instável, podendo haver dias frios e períodos mais quentes. A variação térmica é característica do outono gaúcho, período que costuma ter manhãs e noites geladas com tardes ensolaradas e mornas. Além disso, a chuva e umidade devem ser acima da média nesta estação.

— Com qualquer calorzinho, esses ovos podem eclodir e contribuir para o desenvolvimento da larva. Um grau a mais na temperatura, para nós, não faz diferença, mas para o mosquito faz. Além disso, quanto mais quente, mais o vírus se replica dentro do mosquito, então ele consegue transmitir mais a doença — pontua Ana Gorini da Veiga, professora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) e especialista em vírus patogênicos.

Medidas contra a dengue devem permanecer ativas

Segundo as especialistas, é comum que as pessoas baixem a guarda durante o frio por acreditar que a dengue não é mais uma preocupação. Contudo, Ana garante que o período mais gelado ainda requer cuidados, uma vez que o mosquito não desaparece no inverno.

— Em termos comunitários, a melhor forma de se proteger contra o mosquito da dengue é evitando lixo e recipientes que podem acumular água parada, como pneus e vasos de planta, por exemplo. Piscinas sem tratamento também exigem atenção. Usar repelente e telas nas portas e janelas também são medidas importantes. E, claro, quem tiver acesso, deve buscar a vacinação, que já está disponível — sugere a professora.

A Secretaria Estadual de Saúde (SES/RS) afirma que o trabalho de vigilância e controle do Aedes aegypti é uma rotina já estabelecida e que deve ocorrer durante todo o ano, até mesmo nos períodos mais frios. Portanto, as visitas em casa, eliminação de criadouros, controle de pontos estratégicos e mutirões de limepza, entre outras medidas, devem continuar ocorrendo no outono e inverno.

— Esse trabalho tem que ser feito ao longo de todo ano, que é para chegarmos no verão sem aqueles altos índices de infestação — garante Carmen Gomes, técnica do Programa Estadual de Vigilância e Controle do Aedes aegypti.

Fonte: GZH

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