Caminhos de fé, superação e autoconhecimento

Os 200 quilômetros que ligam os Santuários de Canela a Farroupilha têm sido usados para unir a prática de um esporte com viés reflexivo e religioso. E quem teve essa experiência foram duas veranenses, que em sete dias realizam o percurso a pé.

O Roteiro Turístico Caminhos de Caravaggio foi lançado em maio deste ano. O caminho que liga o Santuário de Canela ao de Farroupilha, possui 200 km. Apesar de ser um projeto recente, teve total aceitação do público; dia após dia, novos romeiros motivam-se a participar deste desafio. Até hoje, passaram 63 pessoas entre ciclistas e caminhantes, de acordo com o caderno oficial.

Neste mês, as veranenses Cândida Moretto Gilioli e Marileia Guarda propuseram-se a realizar essa caminhada, que inicialmente, tinha como objetivo uma superação física, porém, perceberam que o trajeto oportunizou muito mais: autoconhecimento interior e uma nova percepção da vida.

Elas iniciaram o percurso no dia 6 de setembro e o finalizaram no dia 12, passaram por cinco municípios: Canela, Gramado, Nova Petrópolis, Caxias do sul e Farroupilha. A recomendação é que os romeiros percorram 20 quilômetros por dia, totalizando 10 dias de caminhada, porém, Léia e Cândida, fizeram em sete, numa média de 25 a 30 quilômetros diários. Quando surgiu a ideia, há cerca de quatro meses atrás, os familiares, inicialmente, ficaram surpresos, mas foram fundamentais no incentivo e apoio dado para que a realização fosse possível. O objetivo era fazer os caminhos de Compostela, na Europa, porém, quando souberam deste, mais próximo, resolveram desafiar-se. “Sempre gostei muito de caminhar e a Leia também. Então, fomos fazendo treinos mais longos aos sábados, visando à preparação. Marcamos uma data e fizemos bastante pesquisas”, destaca Candida. Elas iniciaram o percurso no Santuário de Canela, que fica há sete quilômetros do centro.

Caminho Autoguiado

Orientando-se pelo Guia do Peregrino, Cândida e Leia, seguiram, dia após dia, encantando-se com belas paisagens. Este guia traz todas as informações necessárias para realizar o percurso, tais como: dicas, mapas, características dos caminhos, localização de hospedagens, restaurantes, igrejas, entre outros. 

Elas relatam que o caminho foi muito bem construído e possui boa sinalização, além disso, há uma ligação entre as pousadas e hotéis por onde os romeiros passam. Leia destaca: “quem organizou esses caminhos, tem experiência nos de Compostela. Ele é preciso por isso, saiamos preparadas para enfrentar aquele trajeto que estava descrito corretamente”. Assim que elas partem de um local, eles já avisam o seguinte, que irão receber duas peregrinas; em caso de necessidade, as próprias pousadas oferecem auxílio.

A jornada iniciava por volta das 8h, e normalmente chegavam na hospedagem às 17h. Durante a caminhada, as condições climáticas variara, tiveram dias muito quentes e outros, chuvosos.  Cedinho, Leia e Candida tomavam um bom café da manhã para enfrentar os diversos quilômetros do dia. E como não tinham locais para almoçar, nas pousadas, depois do café, elas já faziam um sanduíche, pegavam frutas e água, e isso, seria o almoço. “Saíamos com a comida, mas não sabíamos onde íamos parar para comer. Num dia, estávamos torcendo para achar um bom lugar. Dito e feito, encontramos um lago, casa, árvores, local para sentar, foi maravilhoso”, conta, Leia. “Percebemos a presença divina, tudo que pedimos, conseguimos. Mas precisamos ter fé e acreditar”, complementa Candida.  

A beleza das pequenas coisas

Muitos foram os momentos em que o silêncio absoluto proporcionou reflexão e oração. O caminho passa tanto pela Zona Rural, como pela Urbana. “O percurso é cheio de surpresas e bem diferenciado. Estávamos no meio da natureza; de repente o percurso nos levava às áreas urbanas mais movimentadas”, relata, Candida.

Prestar atenção na natureza, na beleza das pequenas coisas, às levava a ver e valorizar a vida de um jeito diferente. Um dos aprendizados foi o desapego de coisas materiais, no segundo dia de caminhada, elas perceberam, que era desnecessário carregar tanto peso, tantas coisas. A mochila completa foi carregada apenas dois dias, nos seguintes, era transportada de uma pousada para a outra. E no percurso carregavam apenas a água e comida.

Na casa de uma família em que pararam para pegar água, um senhor pediu se estavam cansadas, então, Leia respondeu: “um pouco”. E ele disse: “quem caminha com gosto não cansa.” Essas e muitas outras palavras, pessoas e aprendizados ficaram na memória, segundo elas. Alguns foram os desafios: bolhas nos pés, cansaço e sede, em alguns momentos. Mas as dificuldades foram pouquíssimas se comparadas com os bons momentos.

“Anjos no caminho”

Ao questionar se haviam encontrado alguém no caminho, elas se olharam e responderam: “sim, encontramos anjos no caminho!”. No quinto dia, elas encontraram com um casal de São Paulo, Raquel Itimura e Marcelo Soares Luiz, vieram para o Rio Grande do Sul, para realizar os Caminhos. Em alguns momentos caminharam juntos, pousaram nas mesmas hospedagens, enfim, tiveram uma boa convivência, que proporcionou o início de uma bela amizade. Eles chegaram em Farroupilha juntos, e lá, participaram de um momento muito especial.

No início do trajeto, em Canela, os peregrinos recebem um passaporte e a cada dia, precisam carimbar dois locais por onde passaram, para que na chegada, em Farroupilha, recebam o certificado. Ao olhar os carimbos, elas recordam do calor humano de umas famílias que as receberam de braços abertos, da simplicidade, sorrisos e momentos que foram inesquecíveis.

Quando chegam em Caravaggio, além de receber o certificado, tocaram , tocaram o Sino do Peregrino, simbolizando a chegada. “A chegada é muito emocionante, pois além do sentimento de superação em chegar no objetivo,nos receberam muito bem, com uma cerimônia especial” , contam. Para elas, foi primeira peregrinação de, de muitas outras que virão. E a incrível experiência que tiveram naqueles dias, resume-se nestas palavras: “superação, persistência e resiliência!”.

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