Cerimônia de formatura foi na quarta-feira (29), em Porto Alegre. Alex Cardoso parou de frequentar as aulas ainda no ensino fundamental. Ele lançou um livro que conta sua trajetória.
O sonho de continuar estudando sempre acompanhou o catador e, agora, cientista social Alex Cardoso, de 42 anos. Na última quarta-feira (29), ele recebeu o diploma de bacharel em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em Porto Alegre.
Alex parou de estudar na 5ª série, quando começou a trabalhar junto a seus pais como coletor de material reciclável. No ano passado, ele lançou o livro “Do lixo ao bixo: a cultura dos estudos e o tripé de sustentação da vida”, no qual retrata sua trajetória de aprendizagem e conhecimento.
“É justamente para contar essa história do possível. Para a gente conseguir colocar o conhecimento dentro dos nossos afazeres diários. Contei o caminho para, quem sabe, inspirar outras pessoas a voltarem para os estudos e realizarem seus desejos e sonhos”, disse.
Um sonho possível
A decisão de voltar aos estudos veio quando ele começou a organizar as cooperativas de reciclagem e ficou na coordenação do movimento dos catadores. Alex organizava ações nacionais e começou a realizar viagens pelo Brasil e outros países, inclusive frequentando locais como a Organização das Nações Unidas (ONU) e a Organização Internacional do Trabalho (OIT).
“Eu era sempre o iletrado, o que tinha só a 5ª série do ensino fundamental. Eu frequentava várias universidades para fazer aulas junto com os alunos, participava de eventos. E isso me entristecia muito”, recorda.
Ele conta que, durante 20 anos, passava em frente a uma escola e tinha o desejo de voltar a frequentar as aulas. Um dia, após sair do trabalho, entrou no local e contou a sua história para a professora Márcia Aita, que era a diretora da Escola Municipal de Ensino Fundamental Neusa Goulart Brizola, no bairro Cavalhada, em Porto Alegre.
Alex, então, começou a frequentar as aulas da Educação de Jovens e Adultos (EJA). Quando concluiu o ensino médio, participou de um curso preparatório para o vestibular e se inscreveu para participar da seleção da UFRGS.
“Quando eu vi o meu nome no listão, foi uma alegria indescritível. É um prazer enorme estar conseguindo ingressar numa universidade federal, gratuita. A melhor em ciências sociais, uma das melhores do Brasil”, destaca.
A formatura não é, para ele, o fim, mas um símbolo de uma conquista que representou a trajetória de uma vida.
“A transformação poderia e pode ser a partir da educação, não só no ensino superior, mas também na educação inicial. Fazer com que as nossas crianças prefiram a escola do que a rua. Esse é o processo que a gente precisa para mudar o nosso país”, defende.