A última entrevista de Edelmar Soares, o Capelão, para O Estafeta foi publicada na edição impressa de 17 de fevereiro de 2021. Confira na íntegra:
Capelão: um homem de muitas histórias
Trabalho. Essa é a palavra que marca a vida de Edelmar Soares, carinhosamente conhecido pela comunidade como Capelão. Aos 80 anos de idade, aposentado, passa seus dias em uma salinha junto ao consultório odontológico da filha Juliana no Centro Comercial da Palugana. Quem chega no local encontra, sentado atrás da mesa, um homem com muitas histórias para contar.
Nascido em Veranópolis, em 11 de dezembro de 1940, na localidade da Usina Velha no interior de Vila Azul, em um dia de muita chuva, seu Capelão conta que a maior coincidência de sua vida ocorreu em seu nascimento: a parteira que atendeu sua mãe naquele dia chuvoso foi a avó de sua esposa. Ela estava trabalhando na roça quando foi chamada para ajudar no parto.
O apelido capelão surgiu na infância, devido a sua participação na igreja, sempre teve muito interesse na religião e queria ser coroinha. A partir de sua religiosidade, ganhou o apelido e o aceitou com muito carinho. Além da religiosidade, ele destaca que teve uma boa educação e formação quando criança. Tem o curso técnico em contabilidade e, apesar de não ter atuado na área, relembra com carinho da época de aulas e formatura.
A infância de Edelmar foi tranquila. Estudou até o 3º ano primário, aos 13 anos, quando precisou buscar um trabalho para ajudar nas contas da casa, a qual tinha um pai doente. Sua mãe arranjou o emprego na indústria de madeira da J. Mello e Sachinni e, para isso, ela precisou de uma licença especial do juiz, dada sua idade. Começou a trabalhar no dia 09 de março de 1954, mas só teve sua carteira assinada pela primeira vez em 01 de maio de 1955.
Começou na empresa sendo varredor, ajudando a carregar as coisas, ajudando todo mundo em tudo. Após um tempo, veio trabalhar na sede da firma, já com carteira assinada e subindo um pouco na hierarquia do emprego: virou chefe de oficina do turno da noite. Sem entender nada de mecânica, foi aprendendo passo a passo, pouco a pouco, como funcionava sua área de atuação. Passou a ser gerente de serviços, depois passou para o departamento de vendas e na década de 80 virou gerente. Sempre recebeu muito incentivo para treinamentos e exibe com orgulho uma carteirinha com os registros das horas, notas e participações.
Em 2000, a empresa vendeu a representação da marca Chevrolet para a Pretto Veículos, e acabou se tornando uma revenda de carros multimarcas, atuando até 2008, quando fechou as portas definitivamente. Nas instalações da J Mello, abriu a sonhada revenda “Capelão Veículos”, que manteve suas atividades até 2012. Depois disso, Capelão decidiu se aposentar, após 56 anos de trabalho em uma mesma empresa e, por isso, recebeu muitos prêmios. Destaca com carinho o prêmio recebido da Aciv.
Ao findar sua carreira, rememora, com carinho, da importância da empresa em sua vida. “Se não fosse a firma, o apoio da família e o meu comportamento na empresa, talvez não seria uma pessoa tão satisfeita quanto hoje, sempre que tinha alguma dificuldade, financeira ou pessoal, a empresa ajudava, levava em consideração. Ela ajudou na criação de meus filhos e sou muito grato por isso”.
Também deixou seu nome marcado na história da Sociedade Alfredo Chavense, tendo sido presidente do clube no ano de 1984. Capelão destaca com orgulho que, durante sua gestão, ainda em 1984, criou e consolidou a Comenda Príncipe de Piemonte, evento tradicional no calendário da sociedade.
Posteriormente, em 1988, foi convidado pela Doutora Zenaide Maria Boff a ser diretor social do clube, ocupando esse cargo na gestão do Cinquentenário da SOAL. “No ano, a Rainha do Clube era a Elinara Waldemarca, eu dancei com ela no dia do baile, ela já era mais alta que eu e ainda usava um salto”, relembra, rindo. “Normalmente é o presidente que dança, mas a Zenaide disse pra mim ir, foi um momento bem especial para mim”.
Além disso, Edelmar também participou da vida política de Veranópolis. Concorreu ao cargo de vereador em 1988, na mesma campanha de Leonir Farina, prefeito eleito para aquele mandato. Ficou como 1º suplente e acabou ocupando a vaga no legislativo após a saída de um dos eleitos para assumir uma secretaria.
Em todos os anos de trabalho e colaboração, seja na J. Mello, na Soal, na vida política e até como um dos mais antigos comentaristas de Rádio de Veranópolis, Capelão percebe que o trabalho é uma das maiores virtudes do ser humano. Entende que deve haver uma valorização do empregado para com o emprego, mas também os patrões devem priorizar um bom ambiente de trabalho para que ele goste e se sinta acolhido pela empresa. “Meu trabalho sempre foi bem valorizado e resultou inclusive na formação dos meus filhos. Hoje sou muito satisfeito vendo-os já feitos e sei que essa dedicação valeu a pena”.
Síndico do Centro Comercial da Palugana, aproveita o tempo no computador, revendo fotos e histórias e compartilhando bons momentos com sua família. A esposa Marlene Pessin Soares, com quem é casado a mais de 50 anos, trabalha com costura, em um ateliê montado no próprio prédio, perto do marido. Os 4 filhos, Juliana, Lúcio Marco, Rafaela e Valéria, são razão de orgulho para ele, que sempre investiu e acreditou muito na educação dos mesmos. Além disso, os 7 netos, Miguel, Ana Rosa, Joana, Lorena, Carolina, Isabel Joaquina e Theodoro também são motivos de felicidade em sua vida, todos muito bem criados e buscando seguir os mesmos caminhos dos pais. Edelmar trabalhou por sua família e sua família é forte com base no trabalho, sendo essas suas principais razões de viver.