Com internações em alta, RS enfrenta quarto ciclo de crescimento da pandemia

O avanço das internações por covid-19 em leitos clínicos e de tratamento intensivo (UTI) nas últimas semanas coloca o Rio Grande do Sul em um quarto ciclo de crescimento desde o começo da pandemia. 

A subida é mais lenta do que na onda que culminou no pior momento do combate ao coronavírus, entre fevereiro e março, mas a pressão sobre o sistema hospitalar já ameaça desencadear novamente o nível mais alto de alerta do plano de contingência gaúcho. 

Quando a ocupação geral das UTIs bate em 90%, isso dispara medidas nos hospitais como suspensão de procedimentos eletivos, convocação extra de pessoal e uso de salas adaptadas para receber leitos emergenciais. Ao longo do mês de maio, o índice saltou de 77% para mais de 86% até esta segunda-feira (31). 

— Já podemos falar em ciclo de crescimento com base nas hospitalizações, embora isso ainda não esteja se refletindo tanto em número de casos. Esse aumento vem ocorrendo em velocidade menor do que vimos ocorrer em fevereiro, mas já começa a ter efeitos sobre a tendência de óbitos, que começa a querer aumentar — analisa o infectologista e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Alexandre Zavascki. 

Desde o dia 8 de maio, quando chegou ao nível mais baixo após o pico da covid em março, o número de hospitalizados em leitos clínicos cresceu 44%. As hospitalizações em UTI inverteram a tendência de queda e também passaram a subir (veja detalhes no gráfico abaixo). Começaram o mês no patamar de 1,7 mil doentes, recuaram para 1.564 no dia 15, mas, desde então, avançaram 15%.

Já os óbitos entraram em estabilidade após semanas de queda. Mas, nos últimos dias, o acumulado de mortes em uma semana por cem mil habitantes variou de 6,2 na quinta-feira passada (27) para 6,5 no domingo (30). 

A subida pode ser menos vertiginosa até o momento em comparação à onda anterior, segundo Zavascki, por termos mais de um quarto da população com pelo menos uma dose da vacina e pela imunidade parcial de pessoas que se contaminaram recentemente. Além de ter uma ascensão mais vagarosa do que na disparada de março, o atual avanço ainda não atinge com a mesma intensidade a região de Porto Alegre. 

Na Capital, a quantidade de internados em leitos clínicos cresceu 3,4% em uma semana, contra uma média estadual de 13%. Mas, segundo a professora da pós-graduação em Epidemiologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Suzy Camey, a doença segue se espalhando cada vez mais. 

— Começou muito forte no Noroeste, na região das Missões. Depois disso, avançou para outras áreas como Vales, Serra, Sul. É como se estivesse cercando a Região Metropolitana. Se vai chegar na Capital também, depende de nós — observa Suzy, que integra o Comitê de Dados vinculado ao Palácio Piratini e responsável por monitorar a pandemia no Estado. 

Suzy observa que ainda é cedo para falar em nova “onda” da covid porque, embora não existam critérios muito precisos para essa classificação, ela pressupõe um aumento rápido seguido por uma queda equivalente. Se as internações se agravam, por exemplo, mas se mantêm elevadas, formam um “platô” em vez de onda. 

Para o doutor em Matemática Álvaro Krüger Ramos, que costuma analisar a pandemia sob o ponto de vista estatístico, independentemente do nome que se dê, é certo que há uma nova aceleração do vírus: 

— Estamos passando por um novo ciclo de crescimento no Estado, e é muito preocupante, pois o patamar atual de casos novos confirmados ainda está muito alto. Para comparação, é cerca de 80% superior às confirmações no auge de casos de 2020. Então, quando aceleramos partindo de um patamar tão alto, a tendência é um agravamento rápido, com perigo de iminente colapso do sistema de saúde. 

Ramos observa que o número de casos “vem flutuando em um patamar médio de 4 mil por dia, o que nos dá uma aparente sensação de estabilidade”. Mas o matemático lembra que esse tipo de informação costuma sofrer represamento devido à demora para a formalização das notificações. Por isso, as hospitalizações podem fornecer um cenário mais confiável. 

Tomando-se as internações em leito clínico como critério, os gaúchos passaram por três períodos de avanço da pandemia, conforme o boletim de monitoramento das hospitalizações do governo: entre junho e julho e entre novembro e dezembro do ano passado e, no mais grave deles, entre fevereiro e março de 2021. Em nível nacional, diferentemente, houve dois períodos de disparada da covid-19 até agora. 

Programa de aumento da testagem deve ser lançado nesta semana

Pressionadas pelo coronavírus, as UTIs voltam a se aproximar do patamar de 90% de ocupação no Estado. Em entrevista a GZH na semana passada, a secretária estadual da Saúde, Arita Bergmann, lembrou que, quando esse percentual é superado, toda a rede hospitalar gaúcha entra em uma espécie de estado de emergência. 

— Isso corresponde ao nível mais alto do nosso plano de contingência, mesma situação que vivemos em março. Até 90% de ocupação, temos como fazer regulação (de leitos) entre as regiões. Acima, entramos na etapa do plano em que se cancelam procedimentos eletivos e se usam espaços como salas de recuperação para atender covid — declarou Arita. 

Desde a semana passada, esse índice se manteve em ascensão e passou de 82% para mais de 86% nesta segunda. Para fazer frente ao novo crescimento da doença, a Secretaria Estadual da Saúde (SES) encaminhou a compra de novos kits de entubação e deverá lançar nos próximos dias um projeto destinado a ampliar os exames por meio de testes rápidos de antígeno (menos precisos que o PCR, mas com resultado em poucos minutos).  

A ideia é utilizar esse material também para rastrear pessoas que tiveram contato com infectados e evitar que possam contaminar outras pessoas. Segundo a assessoria de comunicação da SES, o lançamento do programa deverá ocorrer “nesta semana”.

Fonte: GZH

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