Queda na ocupação de leitos clínicos e de UTIs por covid-19 perde força no RS

A ocupação de hospitais do Rio Grande do Sul por pacientes com covid-19 segue em redução diária, mas a velocidade de queda perdeu força nas últimas semanas, mostram estatísticas da Secretaria de Estado da Saúde (SES-RS).

A constatação ocorre em meio ao avanço da variante Delta em solo gaúcho, que representa 17,9% de todos os casos sequenciados pelo governo do Estado – aumento de 7,5 vezes em apenas cinco semanas. A cepa é tão transmissível quanto a catapora e mais do que outros vírus respiratórios, apontou o governo norte-americano.

Como claro efeito do avanço da campanha de vacinação, as médias móveis de uso de leitos clínicos e de Unidades de Terapia Intensiva (UTI) são as menores dos últimos dois meses, pelo menos. A taxa de ocupação de UTIs no geral é de 60,5%.

Contudo, ainda que a ocupação por pacientes com coronavírus caia diariamente, a melhora não é mais tão marcante, destacam analistas.

O cientista de dados e coordenador da Rede Análise Covid-19 Isaac Schwartzhaupt resume o passo a passo de recrudescimento da epidemia em três fases: desaceleração da queda, estabilização e, finalmente, subida da curva (isto é, piora). Agora, o Rio Grande do Sul está na primeira fase, de desaceleração, diz.

— Temos que ligar o alerta já nesta etapa. Se desacelera a queda é porque tem energia contraria à queda. A gente sabe que a vacina está controlando bem o agravamento da doença e os óbitos. A Região Sul é uma das mais bem cobertas com vacina, então há maior demora para a Delta demonstrar aumento em hospitalizações e óbitos. Mas mesmo países bem vacinados têm grande aumento de casos. Precisamos ter vacina, mas também medidas de controle de transmissão — afirma.

Dados do governo do Estado apontam que 65,5% dos gaúchos receberam a primeira dose da vacina ou Janssen e 32,1% receberam duas aplicações. A nível nacional, o Rio Grande do Sul é o terceiro Estado com maior cobertura vacinal completa e de uma dose, segundo o Portal Covid-19 no Brasil.

A queda sistemática no uso de leitos das últimas semanas passou, nos últimos 10 dias, a alternar entre queda e estabilização, provável efeito da Delta, observa Suzi Camey, professora de Epidemiologia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e integrante do Comitê Científico que aconselha o Palácio Piratini.

— Esse cai e para, cai e para mostra que há uma força contrária. A explicação mais provável é a presença da Delta e os surtos que ela ocasiona. É um momento de instabilidade: não sabemos se estamos em queda ou platô. Neste momento, há uma população vacinada querendo puxar para baixo os números, junto com uma variante que quer levar os números para cima — afirma a epidemiologista.

Suzi também observa que a Delta pode ter o avanço retardado não só por disputar espaço com a variante Gama, originária de Manaus, mas também pelo uso de máscaras mais disseminado – apesar das falhas, o cenário é diferente de Estados Unidos e Israel, onde governos haviam orientado que o acessório ficasse de lado.

— A vacina é efetiva para barrar casos graves e óbitos, mas evita pouco a transmissão. Sem a barreira da máscara e com uma variante muito mais transmissível, o número de casos em outros países explode. Mas, quando a Delta chega ao Brasil, boa parte da população usa máscaras, então o impacto é menor — acrescenta a epidemiologista.

O cientista de dados Schwartzhaupt lembra que a tendência de piora da epidemia não ocorre apenas no Rio Grande do Sul, mas também em outros Estados brasileiros – marcadamente no Rio de Janeiro, onde a Delta já representa pelo menos 60% dos casos, e a ocupação de UTIs chegou ao máximo em cidades da Região Metropolitana.

A própria prefeitura do Rio de Janeiro reconhece a capital carioca como epicentro da Delta no país e pediu ao governo do Estado ajuda para ampliar o número de leitos hospitalares, antevendo maior procura nos próximos dias.

Na cidade de São Paulo, a ferramenta Info Tracker, criada por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Estadual Paulista (Unesp), já aponta explosão de casos a partir de 19 de setembro, devido à ação da Delta.

Analistas temem que o fim das restrições contribua para a piora da epidemia e pedem que a população, a despeito de ter recebido uma ou duas doses, mantenha cuidados – como uso de máscaras, preferência por encontros ao ar livre e fuga de aglomerações.

— O uso de máscaras ainda é obrigatório e os grandes eventos ainda não são permitidos, o que parece segurar a Delta. O que não poderemos fazer é aumentar riscos, como abrir mão de máscaras e liberar grandes eventos — afirma a epidemiologista Suzi Camey.

Fonte: GZH

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