Nossos Seres Veranópolis: Há 139 anos sendo a casa de novos veranenses

Quem são os novos veranenses? O que os leva a viver aqui? Por que escolheram Veranópolis como nova morada? Conheça a história de migrantes que escolheram Veranópolis para morar em uma reportagem especial sobre os Nossos Ser(es) Veranópolis.

 

Veranópolis completou 125 anos de história e 139 anos da chegada dos primeiros imigrantes. Grande parte da história do município, assim como da Serra Gaúcha é formada, majoritariamente, por imigrantes italianos, sendo que poloneses e alemães também povoaram a região. Entre os anos de 1880 e 1930, muitos imigrantes deixaram seus países de origem e chegaram até o sul do país.

Em 1885, foi fundada a Colônia de Alfredo Chaves, território que hoje compreende os municípios de Veranópolis, Vila Flores, Fagundes Varela, Cotiporã, Nova Prata, Vista Alegre do Prata, Nova Araçá e Nova Bassano. A partir daí, a localidade passou a se desenvolver e prosperar, tendo em suas raízes a cultura dos imigrantes.

Atualmente, o município segue recebendo imigrantes de diversas nacionalidades. De acordo com um levantamento fornecido pela Secretaria de Assistência Social, Habitação de Longevidade, são, aproximadamente, 30 imigrantes cadastrados no município, mas estima-se que o número seja maior, pois nem todos os estrangeiros possuem o cadastro único junto ao município.  Estrangeiros de todos os lugares escolhem a Terra da Longevidade como sua nova casa. A Coordenadora do CRAS de Veranópolis, Luciana Matter, explica que a região não possui um fluxo migratório constante, mas mesmo assim, recebe um número significativo de estrangeiros todos os anos.

“Escolhi o Brasil, porque sempre via o futebol na televisão”

O marroquino Amin Ait de 26 anos, nasceu, cresceu e casou no Marrocos, mudou-se para o Brasil no ano de 2021, em busca de melhor qualidade de vida e oportunidades de trabalho. Inicialmente, morou em São Paulo, mas não se adaptou a cidade. “Vivi em São Paulo, mas não gostei da cidade, porque não tem muita segurança”, explica.

Ele descreve que sempre teve o sonho de viver em outro país, não importava qual fosse, apenas gostaria de sair do Marrocos. Por influência do irmão, que veio para o Brasil, mudou-se para cá também. “Eu queria viver em qualquer país, mas escolhi o Brasil, porque sempre via o futebol na televisão e meu irmão veio antes, então vim também”, detalha.

Amin relata que conheceu Veranópolis através de um amigo, também marroquino, que já conhecia o município. “Meu amigo é casado com uma brasileira, ele já conhecia aqui, me falou da cidade, gostei do que ele falou, então eu vim para cá em junho de 2022”, revela.

Há quatro meses, sua esposa também passou a morar na Terra da Longevidade, até então, ela seguia vivendo em seu país natal. Ambos são de religião muçulmana, mas ele explica que não enfrentam preconceito ou problemas relacionados a isso. Segundo ele, o casal segue seus costumes e sua religião de forma normal, fazendo as orações em casa. “Aqui não tem Mesquita, então fazemos as orações em casa e uma vez por semana, sempre na sexta-feira, vamos para Caxias do Sul ou Porto Alegre para rezar nas Mesquitas, porque nessas cidades tem”, descreve.

Amin trabalha com turismo na região e, também, como frentista em um posto de combustíveis. Ele descreve que foi muito bem recebido no município e região e que o único problema que enfrentou foi o calote de um cliente. Para o futuro, ele pretende se fixar no município, ter filhos e crescer nos negócios.

“Não me senti tão seguro em nenhum lugar como me sinto aqui”

O Colombiano Carlos Alberto León Núñez, de 34 anos, chegou ao Brasil em 2012, em função de seu trabalho no site Buscapé. “Naquela época, eu estava me formando da Universidade e aceitei a mudança para São Paulo, ela impactou minha vida pessoal e profissional. Sou formado em Engenharia Eletrônica pela Universidade Central da Colômbia e tenho dois MBAs, um em Gestão de Projetos de TI e outro em Inteligência Artificial, Data Science e Big Data. Trabalho com o mundo Digital há mais de 10 anos e hoje em dia tenho a função de Diretor de Operações de uma empresa de Marketing Digital do Brasil”, detalha.

Carlos revela que conheceu Veranópolis através da namorada Taís Munaretti, em 2019, quando os dois mantinham um relacionamento a distância. Apenas em 2020, com a chegada da pandemia e o trabalho remoto, foi que ele começou a passar mais tempo na cidade. “Em 2020 eu passava três semanas aqui e uma em São Paulo, foi essa minha rotina todos os meses. Em 2021, solicitei transferência para o Rio Grande do Sul e passei a ficar permanentemente aqui”, destaca.

Ele destaca que imaginava a cidade muito diferente, especialmente por ter crescido e vivido em metrópoles como Bogotá e São Paulo. “Quando me falavam em interior com aproximadamente uns 25 mil habitantes, eu imaginava que era uma cidade atrasada em termos de infraestrutura ou, por exemplo, com poucas opções para o dia a dia”, revela.

De acordo com ele, o município o surpreendeu pela infraestrutura, rede de saúde e segurança. “Quem vem de cidade grande sabe como é difícil o assunto segurança, na minha vida não me senti tão seguro em algum lugar como me sinto aqui, a rede de saúde é incrível, funciona muito bem no meu ponto de vista, organizada e eficiente. Segurança e saúde são fundamentais para mim, nesses dois aspectos, Veranópolis é excelente”, destaca.

Ainda segundo ele, inicialmente, algumas piadas o incomodavam, dado o fato da Colômbia ter um histórico com drogas. “Infelizmente, meu país tem uma história vergonhosa com drogas, e as pessoas em muitas situações conhecem o que se vê na mídia, então é um tema que sai em conversas com algumas brincadeiras (que também sei não é por mal). Confesso que antes me incomodava um pouco, mas entendi que faz parte da sofrida história da Colômbia, então aprendi a relevar e contar um pouco para as pessoas as verdades sobre esses velhos acontecimentos”, enfatiza.

Carlos revelava que para seu futuro pretende viver a vida prestando atenção aos detalhes e continuar atingindo seus sonhos. “Pretendo aproveitar ao máximo as oportunidades da vida e a tranquilidade que o ritmo e ambiente da cidade proporcionam”, finaliza.

“Chegamos aqui através da ONU, o Brasil foi o primeiro país a nos aceitar”

Daisy e a família

A Colômbia enfrenta conflitos internos há décadas, essa situação causa muita violência e gera insegurança entre os moradores das regiões mais afetadas. Muitas pessoas acabam saindo dessas regiões e, até mesmo, do país em busca de oportunidades melhores.

Esse é o caso de Daisy Herrera, 37 anos, colombiana e, também, uma das novas moradoras de Veranópolis. Ela chegou ao município em 2012, através de um programa da Organização das Nações Unidas em parceria com padres Jesuítas. “Eu e minha família chegamos aqui através da ONU, que trabalha com direitos humanos e acolhe pessoas que estão passando por situações difíceis, nós fomos entrevistados e seriamos chamados assim que algum país aceitasse nos receber”, relata.

Antes de serem acolhidos pela organização, a família foi por conta própria para o Panamá, ficando lá com visto de turista por um curto período de tempo. Daisy explica que tinha alguns familiares no Equador e foram para lá em busca de oportunidades de trabalho, uma vez que o país estava recebendo refugiados colombianos. No entanto, lá a família enfrentou problemas de adaptação e, através de uma entidade de ajuda humanitária, foram direcionados ao programa na ONU, através do qual seriam realocados em outro país.

Canadá, Holanda e Brasil eram os três países na lista de aceitação da família. De acordo com ela, assim que o primeiro aceitasse, eles seriam chamados pelo programa para realizar todos os tramites legais para a viagem. “O Brasil foi o primeiro país a nos aceitar, mas para chegar até Veranópolis foi complicado. Nós fomos entrevistados pela diretora da ONU no Brasil e falamos que gostaríamos de vir para o Sul, mas não tínhamos ideia do que encontraríamos, porque o país é bastante fechado para os vizinhos que falam espanhol”, descreve.

Daisy explica que na época, apenas São Paulo e Rio Grande do Sul possuíam programas de acolhimento a refugiados. A família optou pelo Rio Grande do Sul, buscando a possibilidade de ficarem mais próximos de países com sua língua nativa. Chegando em Porto Alegre, a família foi destinada para Veranópolis pelo programa de acolhimento. “Nos falaram que seriamos enviados para uma cidade pequena chamada Veranópolis, eu nunca tinha ouvido falar, mas logo que cheguei aqui já me senti muito bem”, detalha.

Ela explica que a Fundação dos Jesuítas de Porto Alegre auxiliou a família na chegada ao município, uma vez que seria a primeira família de refugiados a chegar no município. “A fundação conversou com a prefeitura para saber se seriamos aceitos, já que naquela época fomos uma das primeiras famílias estrangeiras a chegar na cidade. Eles também nos apresentaram a Assistência Social para que começássemos a conhecer as pessoas”, enfatiza.

Inicialmente, apenas o marido de Daisy trabalhava, ela cuidava da filha de quatro anos e fazia cursos promovidos pela Assistência Social. “Os cursos foram muito importantes, porque lá comecei a fazer amizades e, também, a Assistência Social foi muito importante nos primeiros momentos aqui”, destaca.

Daisy explica que apesar do município ter uma cultura particular e muito diferente da sua de origem, a adaptação foi muito boa, porque o povo é acolhedor. “A cidade é pequena e tem suas particularidades, sempre fui procurando me inteirar de tudo e me adaptar ao local”, detalha.

Em agosto de 2023, a família completa 11 anos no município e estão buscando naturalização brasileira. “Agora nós estamos buscando nos nacionalizar brasileiros, nós amamos o Brasil e queremos permanecer aqui. Eu amo o Brasil, é um país de oportunidades que abraça todo mundo”, revela.

Segundo ela, Veranópolis é uma cidade cheia de oportunidades para quem quer crescer. Além disso, ela destaca a segurança e tranquilidade que a família encontrou aqui. “Eu amo morar aqui, porque é uma cidade que permite que as pessoas cresçam e se integrem na sociedade, aqui também é muito tranquilo, muito diferente de onde eu morava antes”, finaliza.

“Costumes italianos diferentes e a receita típica da pizza artesanal”

Mais de 100 anos após a chegada dos primeiros italianos na região, Veranópolis segue recebendo imigrantes do velho continente. É o caso do italiano Giuseppe (Beppe) Mariotti, de 51 anos, que mora em Veranópolis desde 2014.

Ao chegar no Brasil, Beppe e a esposa passaram um mês em Minas Gerais, mas em junho de 2014, vieram para Veranópolis em função de seu trabalho na filial de uma empresa italiana. “Cheguei aqui para trabalhar em uma firma, imaginava que seria uma oportunidade de crescimento”, explica.

Além do trabalho, o que o trouxe para cá foi o desejo da esposa, que é brasileira, de ficar mais próxima da família. “Depois de nove anos morando na Itália, ela quis voltar ao Brasil para ficar mais perto dos pais”, enfatiza.

Beppe explica que apesar do município ter colonização italiana, os costumes são diferentes, o que gerou alguns problemas de adaptação nos primeiros anos morando aqui, ele também teve dificuldade em fazer amigos em função disso. Além disso, ele acabou se decepcionando com o emprego. “Fiquei na empresa por três anos e meio, mas não me adaptei e acabei me decepcionando, porque não era o que eu esperava”, explica.

Há, aproximadamente, cinco anos, ele trabalha com pizzas artesanais, desses quatros anos foram trabalhando em parcerias com restaurantes. “Sempre trabalhei com parcerias, para ter uma ideia, na primeira delas, com quatro ou cinco meses de funcionamento a pizzaria pegou fogo, depois fui para outros lugares até abrir meu próprio espaço”, revela.

Beppe abriu a própria pizzaria a pouco mais de um ano, trabalhando com um estilo de cozinha tradicional italiano, fazendo pizzas de fermentação natural e tendo um conceito de pizza e comida diferente do popular aqui. Para o futuro, ele destaca que pretende seguir investindo na pizzaria, tornando-a mais conhecida. “Muitas pessoas não conhecem meu trabalho, especialmente por ter um estilo diferente, mas pretendo segui investindo no projeto de pizza italiana”, finaliza.

“O idioma deixou de ser um problema”

Ludmila com o marido e os dois filhos

Os vizinhos Hermanos também escolhem a Terra da Longevidade como novo local de moradia. Ludmila Hermanowyc, 33 anos, é argentina e mudou-se para Veranópolis em 2009, em função do trabalho do marido, também argentino. Atualmente, ela trabalha como professora de espanhol em uma escola de idiomas.

Segundo ela, o início foi um pouco complicado e função do idioma, pois ela nunca havia estudado português. “Depois que mudei para cá resolvi fazer um curso e a partir da convivência diária e os afazeres cotidianos, o idioma deixou de ser um problema”, explica.

O casal já se estabeleceu no município e formou sua família aqui. Atualmente eles possuem dois filhos, de 11 e 08 anos, naturais de Veranópolis. A professora destaca que apesar de, inicialmente, ter tido uma pouco de dificuldade com o idioma, a família não enfrentou nenhum outro tipo de problema por serem estrangeiros. “Veranópolis é uma cidade encantadora, fomos muito bem acolhidos e recebidos aqui”, explica.

Para o futuro, ela explica que a família seguirá por aqui pelos próximos anos, especialmente em função do estudo das crianças.

 

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