O médico geriatra Emilio H. Moriguchi, uma das grandes referências em gerontologia, é um dos idealizadores do “Projeto Veranópolis: Estudos em Envelhecimento, Longevidade e qualidade de vida”. Moriguchi nasceu no Japão e veio para o Brasil aos 10 anos, junto com a família. Ele é filho do professor e também médico Yukio Moriguchi, considerado o pai da geriatria no Rio Grande do Sul.
Pesquisador na área da longevidade, Emilio teve acesso, na década de 1990, a uma reportagem que citava Veranópolis como um local onde havia um grande número de longevos saudáveis e com qualidade de vida. Atento a este fato, juntamente com a médica geriatra Elisabete Michelon, iniciou, em julho de 1994, um extenso estudo que segue até hoje, que muito contribui, tanto para a comunidade local, que tem a cidade como referência mun-dial de longevidade saudável como para a esfera científica, contemplada com inúmeras informações técnicas sobre o tema.
O início do trabalho em Veranópolis foi marcado por situações singulares. Para conseguir que os idosos participassem do estudo, Emilio teve que passar pelo prefeito, pela Câmara dos Vereadores e pelo frei responsável pela Igreja Católica local, que sugeriu que ele comparecesse à missa de domingo para apresentar o projeto.
O primeiro recrutamento aconteceu por meio de um convite informal aos participantes de uma cerimônia religiosa. “O nosso ‘Projeto Veranópolis’ é um estudo longitudinal de envelhecimento mais longo do Brasil, e tem revelado como os idosos longevos, com excelente qualidade de vida, vem se alimentando ao longo das suas vidas, o que serve de modelo para uma dieta saudável para longevidade, baseada na realidade local”, destaca.
Os critérios de elegibilidade para a primeira pesquisa foram: (1) ter 80 anos completos até a data do recrutamento e (2) residir no domínio territorial de Veranópolis, podendo ser na cidade ou no interior. Estava direcionado a entender os fatores de risco cardiovasculares em pessoas com idade igual ou superior a 80 anos, semelhantes a muitos já desenvolvidos em outras regiões do mundo. A partir de 1998, foram desenvolvidos outros estudos: presença de fatores de riscos cardiovasculares clássicos (tabagismo, diabetes, obesidade, níveis altos de colesterol, hipertensão e história familiar de doenças cardiovasculares). O objetivo principal do projeto até os dias de hoje é entender: “Quais seriam os segredos de um envelhecimento saudável?”.
Em 1999, foi desenvolvido um projeto mais ambicioso, que tinha como objetivo estudar também os adolescentes. Esta investigação baseou-se no questionamento: Será que os costumes dos longevos de Veranópolis estariam sendo preservados? O que aconteceria com a Longevidade da população de Veranópolis caso o estilo de vida destes idosos estivesse sendo perdido? Para responder estas questões, ocorreu uma união histórica: pediatras e geriatrias uniram-se para entender o perfil de saúde dos adolescentes. Ao final deste estudo, constatou-se que muitos dos adolescentes já apresentavam fatores de risco para doenças crônico-degenerativas, destacando-se a obesidade e a hipertensão. Nesta oportunidade, surgiu a terceira fase do projeto, com o programa “Promoção de Saúde e Longevidade com Qualidade”. Este concretizou-se a partir de 2007 e atende a toda população de Veranópolis, a partir dos 10 anos de idade.
Hoje, quase 25 anos depois, vários trabalhos foram desenvolvidos. Neste período, o projeto conta com uma produção científica de 25 dissertações de mestrado, 10 teses de doutorado, 13 monografias, mais de 60 trabalhos apresentados em Congressos nacionais e internacionais, além de 23 artigos científicos publicados.
Algumas causas apontadas como fatores da Longevidade:
Os níveis de estresse são menores; a atividade física dos longevos é mais intensa, similar a das pessoas adultas jovens; os idosos costumam fazer refeições regulares, garantindo uma nutrição saudável; investigações nutricionais mostraram que os idosos ingerem em média as quantidades de carboidratos, proteínas e gorduras que são indicadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS); os idosos participam ativamente das atividades da comunidade; apesar de existirem riscos cardiovasculares na população idosa, como colesterol alto, diabetes e hipertensão, um estudo longitudinal que acompanhou a mortalidade dos idosos durante três anos não mostrou associação entre mortalidade e tais riscos; estudos feitos por psiquiatras, psicólogos e biólogos mostraram que a população possui um alto grau de satisfação com a vida, sendo em geral muito alegre e ativa: religiosidade, convivência familiar e social.
Devido ao grande números de pesquisas desenvolvidas, surgiu a necessidade da criação do Instituto Moriguchi, que está em construção, junto ao Hospital Comunitário.