Reportagem especial: Assédio é tudo o que vem depois do NÃO!

Mais uma vez o Big Brother Brasil, foi palco de situações que envolvem violência contra a mulher. No início do programa, em janeiro, já havia sido registrado um caso de violência psicológica contra uma participante. Nesta semana, dois participantes assediaram e importunaram sexualmente uma participante do reality do México La Casa De Los Famosos, que está temporariamente no reality brasileiro.

Toda a ação aconteceu entre a noite da quarta-feira, dia 15 e a madrugada da quinta-feira, dia 16, durante a festa do líder na casa. Em um primeiro momento, MC Guimê se aproximou da vítima, Dania Mendez e passou a mão em suas costas e nádegas. Em uma sequência, após dar um selinho nela, o lutador “Cara de Sapato”, tenta beijá-la novamente, desta vez quando ela estava deitada na cama. Sapato tenta imobilizar Dania ao prender seus braços e se projeta sobre o corpo dela. Dania diz “chega, não” e pergunta se ele está bêbado.

Ao longo da quinta-feira, fãs do programa passaram a pedir a expulsão dos dois participantes. A eliminação dos dois, foi confirmada na noite da quinta-feira, quando o apresentador, Tadeu Schmidt, fez o anúncio ao vivo. “Mas, a partir de tudo que vimos e ouvimos, nós não gostamos do que vimos ontem, Sapato e Guimê passaram do ponto. É preciso tomar cuidado com os limites, aqui e fora daqui. Assim, por contrariar as regras do programa, Guimê e Sapato estão eliminados do BBB”.

O que caracteriza o assédio

O assédio como um todo pode ser configurado como condutas abusivas exaradas por meio de palavras, comportamentos, atos, gestos, escritos que podem trazer danos à personalidade, à dignidade ou à integridade física ou psíquica de uma pessoa, pôr em perigo o seu emprego ou degradar o ambiente de trabalho. Já o assédio sexual viola a dignidade da pessoa humana e os direitos fundamentais da vítima, tais como a liberdade, a intimidade, a vida privada, a honra, a igualdade de tratamento, o valor social do trabalho e o direito ao meio ambiente de trabalho sadio e seguro. De cunho opressivo e discriminatório constitui violação a Direitos Humanos.

A psicóloga Andrelise de Souza, explica que situações de assédio mexem com a autoestima e com o psicológico da mulher que foi vítima da situação. “O assédio e o trauma gerado por ele, mexe também com relacionamentos futuros que essa mulher possa vir a ter ao longo da sua vida”, detalha.

De acordo com ela, lidar com situações de assédio de um modo geral são muito delicadas, justamente pelo trauma causado. “Outra questão que as mulheres enfrentam é de achar que elas causaram a situação, as vítimas acabam ficando introspectivas, mudam seu comportamento, forma de se vestir e acabam entrando em sofrimento psíquico, dependendo do grau da situação”, explica.

A terapia auxilia no processo de entendimento e superação de situações que envolvam algum tipo de violência, uma vez que a partir da fala, as vítimas conseguem entender e externar o que ocorreu. “A terapia faz com que a pessoa consiga ressignificar e dar nome ao ocorrido. A partir da fala é possível deixar o passado para trás”, revela.

Culpabilização da vítima

Vítimas de importunação, assédio sexual ou outros tipos de violência, muitas vezes não denuncia o ocorrido por medo, especialmente, da culpabilização e do medo de serem responsabilizadas pelo que ocorreu. “É importante deixar muito claro que a toda a forma de violência, abuso ou assédio, nunca é culpa de quem está recebendo isso, de quem está sendo atingido”, esclarece.

A partir do momento em que uma mulher diz não, seja com palavras ou gestos, o que ocorrer em seguida, poderá ser considerado assédio. “Vivemos em uma cultura que passa a responsabilidade das situações para as mulheres, no sentido de que ela estava se insinuando, estava querendo algo, mas a partir do momento que ela sinaliza que não quer algo, os homens precisam aprender a respeitar”, destaca.

Conforme a psicóloga, a sociedade não deve normalizar questões de assédio. “As mulheres precisam tomar as medidas necessárias, procurar a delegacia, buscar serviços de apoio. Quando não falamos sobre o assunto, vemos cada vez mais situações surgindo, as pessoas precisam entender o respeito a cerca do outro”, finaliza.

Combate ao assédio

Pesquisas apontam que mais da metade das brasileiras já sofreu algum tipo de assédio durante sua vida. A Assistente Social e Coordenadora do CREAS de Veranópolis, Sandrine Glaeser Gregol, descreve que são inúmeras as situações que podem ser caracterizadas como assédio ou importunação. “É muito difícil encontrar uma mulher que nunca passou por uma situação desse tipo, seja em alguma festa, na rua ou no trabalho, todas as mulheres tem pelo menos uma história para contar”, descreve.

Sandrine explica que em função da naturalização de situações de assédio, muitas mulheres não conseguem, sequer, identificar que foram vítimas, porque muitas situações são relevadas ou justificadas de outra forma, especialmente como brincadeira. “O que precisamos ter em mente para identificar assédio é que qualquer pessoa que vá tocar no teu corpo precisa ter consentimento. A partir do momento em que não há esse consentimento ou que a mulher não está em condições de consentir, é assédio”, detalha.

Mesmo assim, às vezes a identificação ainda não fica clara e para isso, existem os serviços de apoio como CREAS, delegacias especializadas e outros profissionais ou pessoas que podem auxiliar as vítimas. “No momento em que a violência é confirmada, é possível fazer boletim de ocorrência para que seja realizada a investigação”, explica.

O CREAS presta apoio jurídico, assistencial e psicológico a mulheres vitimas de assédio ou outros tipos de violência. “O serviço acolhe desde mulheres que já fizeram o registro de boletim de ocorrência, até aquelas que ainda estão tentando entender a situação sofrida por ela. Nós fazemos esse atendimento e prestamos todo o suporte para as mulheres, pensando, principalmente, na segurança delas”, finaliza.

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