Nossos Seres Veranópolis: Traços capazes de identificar um local

A arquitetura como atividade humana existe desde que o homem passou a se abrigar das intempéries e abrange a consideração de todo o ambiente físico que envolve a vida humana. A atividade refere-se a toda construção e modelagem artificial do ambiente físico, incluindo seu processo de projeto e o produto deste, sendo a palavra também usada para definir os estilos e métodos de projeto das construções de uma época.

A principal aplicação da palavra se refere ao projeto de edifícios pela humanidade, mas também engloba o planejamento de cidades e espaços rurais e urbanos. Através dela e de suas características, também é possível identificar locais que possuem construções características.

Traços da arquitetura veranense

Paula Fogaça – Arquiteta e Urbanista. Mestre em Arquitetura e Urbanismo na temática de paisagem e patrimônio cultural. Assessora de infraestrutura turística da Atuaserra e Sócia proprietária da Abaporu Arquitetura e Engenharia.

“A arquitetura é uma das formas mais marcantes de expressão cultural e histórica de uma cidade. Os prédios históricos, em especial, são testemunhos valiosos de períodos passados e de sua arquitetura peculiar. Por isso, a preservação desses edifícios é tão importante para a conservação da memória coletiva e da identidade cultural das cidades.

Em Veranópolis, a arquitetura reflete a colonização italiana que originou a cidade no final do século XIX. Embora os grandes casarões de madeira de pinheiro araucária típicos da imigração italiana sejam raros, um exemplar preservado é a casa Saretta.

Na região central de Veranópolis, a arquitetura é influenciada pelos estilos ecléticos e neoclássicos. O estilo eclético se desenvolveu no final do século XIX e início do século XX, caracterizando-se pela mistura de diferentes elementos estéticos e arquitetônicos, influenciado pelo ecletismo europeu e pelo historicismo. Várias edificações na avenida Júlio de Castilhos e na Osvaldo Aranha possuem esse estilo, como o edifício da fruteira central, que apresenta frontão e molduras nas janelas ricamente ornados.

As edificações mais antigas de Veranópolis, como as igrejas, representam um importante patrimônio histórico e cultural, destacando-se a Igreja Matriz São Luiz Gonzaga, construída em estilo neogótico no início do século XX. Além das edificações, a cidade possui outras características que a tornam única, como as largas ruas, os raspas-pés em algumas fachadas que remetem ao tempo em que as estradas eram de terra, e até hoje o limpa calçados permanece na fachada de algumas edificações, as praças e a limpeza da cidade. É importante lembrar que a paisagem é dinâmica e evolui, e a arquitetura é um reflexo da sociedade. Devemos pensar no progresso sem apagar o passado, pois para saber para onde vamos, precisamos saber de onde viemos”.

Joanna Peruffo – Arquiteta e Urbanista

“Minha percepção sobre Veranópolis é de que a Arquitetura, aqui, é utilizada para refletir a evolução da sociedade e a pujança econômica que vivemos hoje, materializando esses aspectos através da estética contemporânea das novas edificações, o que é algo louvável. A maioria das cidades da Serra Gaúcha conseguem preservar exemplares de arquitetura colonial, herança das colonizações italiana e alemã, como forma de apropriação cultural ou turística, tendo muito sucesso nesses setores e ainda assim transmitem, através de sua arquitetura contemporânea, a modernidade de nosso tempo. É esse equilíbrio entre a história e as demandas da atualidade que tornam nossas cidades atraentes e charmosas. Veranópolis parece já ter escolhido seu caminho ou talvez ainda não tenha despertado para qual é sua vocação em termos de arquitetura, preservação e turismo”.

Yamara Del Bem e Francine Kesties Bortoli – arquitetas e urbanistas, designers de produto e proprietárias do Studio Norling.

“Capital brasileira da longevidade, com colonização predominantemente italiana iniciada em 1884, quando chegam os primeiros imigrantes advindos principalmente das províncias de Treviso, Pádua, Cremona, Mântua, Belluno, Tirol e Vicenza, onde estes muitos, pretendentes aos terrenos nas antigas colônias se abrigaram orientados pela Inspetoria Geral de Colonização destinada planejar e a concretizar a criação de uma nova colônia. Este breve comentário a respeito da história é para entendermos a predominância cultural da cidade, visto que arquitetura e arte são produtos de determinado contexto histórico, social ou geográfico. Em nossa cidade ainda podemos contemplar alguns exemplares que traduzem essa história através de uma linguagem arquitetônica própria, materializando a criatividade, os saberes e as técnicas dos imigrantes que aqui chegaram.

Como amantes de história e arte que somos, a arquitetura histórica possui um lugar especial para nós. A riqueza de detalhes dos casarões, a imponência das edificações religiosas, as casas dos imigrantes que demonstram tanta força em sua simplicidade. Tudo isso nos cativa e nos faz imaginar todas as histórias que por ali passaram. Mas não podemos deixar de salientar as edificações atuais que vem surgindo a cada dia em nosso município, frutos de uma arquitetura de qualidade e bom gosto. Desta forma podemos dizer que somos privilegiados em poder apreciar o passado materializado através das edificações históricas e ao mesmo tempo contemplar os belos traços da arquitetura contemporânea simbolizando nosso presente e futuro”.

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